Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Continuando

Entao? Que te aconteceu?
Nem vais acreditar..continuo com esta chatice desta gripe ou coisa similar
Bem, toca la a despachar, sabes que tens imensos pedidos a historiar.
Bem sei, vou so ali ver a febre outra vez e volto ja..
Amanha ficas bem, prometo.
Se tu dizes, eu acredito. Mesmo!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

História pedida 19 (pela minha Querida Marta M., com o tema:) Pequenos Prazeres

Madalena cresceu tendo tudo entre as mãos. Andou nos melhores colégios, com os brinquedos mais caros, cavalos árabes, festas de um turbilhão de cores, empregadas para cada momento, as pérolas e as amigas de conveniência.

Agora, mulher elegante, bonita, bem cuidada e interessante, passa os dias entre o ginásio, as excursões à Avenida da Liberdade com as amigas, os palmiers da Pastelaria Restelo às cinco, os vestidos de marca, os sapatos JimmyChoo, o pecado dos croissants da Bénard nos dias de chuva.

Sente-se bem e esta vida traz-lhe um sorriso aberto a todo o instante. Apesar de às vezes lhe parecer que alguma coisa se perdeu.

No almoço de sushi na Bica, a amiga de sempre sentencia com uma gargalhada cantada: "Isto é que é viver bem.. A vida é feita destes pequenos prazeres!"

E Madalena sorri um sorriso triste, se é que isso existe.

Lembrou-se do avô. O avô que é hoje um resto do que foi, uma ínfima parte do que era.
O Verão a sério só chegava com as duas semanas que passava com os avós paternos na Costa. O avô sempre cheio de força e energia, que a ensinava a fazer torres infinitas com a areia molhada, levava-a até às ondas mais rebeldes, ensinava-a a comer conquilhas cruas que encontravam arrastando os pés na maré-vazia. Apanhavam uma dúzia, ia tudo para o balde azul e depois sentavam-se a comê-las. Sushi à antiga.. "Sabe mesmo a mar... A isto eu chamo pequenos prazeres" e ria, coisa que era rara nele. E Madalena sorria sem perceber, mas feliz por estar ali.

Tem saudades do avô, do Verão na Costa, das marés-vazias. Muitas, imensas. Se calhar devia dizer-lhe isso na próxima visita. Ainda que ele nem perceba, perdido que está no espaço e no tempo, perdido de si e dos seus. Tem saudades do seu sorriso à beira-mar. 

Acaba de decidir: na próxima vez leva-lhe um balde azul cheio, carregadinho de pequenos prazeres. Pode ser que o faça lembrar quem é a menina-mulher que ali está à sua frente. E talvez até sorrir.

sábado, 19 de novembro de 2011

( Parêntesis )

Que se passa?
Estou constipada.
Outra vez??
Pois que é que tu queres..
Mas, muito?
Tanto que só me apetece uma coisa: nada.
Por isso é que não tens escrito?
Pois, mal consigo pensar, quanto mais escrever.
Não te preocupes com isso agora.
Bem sei, mas que é que tu queres..
Deixá la, isso passa. Não tarda estás fina.
Pois, espero que sim. Que seja rápido e indolor, já agora.
Então e já viste o tempo que tem feito?
Sim. Tudo cinzento, uma canseira.
E isto da crise, ahn?
Olha, desculpa lá, já percebi que queres conversa, mas agora tenho que ir ali espirrar mais algumas cinquenta e duas vezes, sim? Volto ja.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

No carro

Ele para ela:
-
 Fazes parte da minha vida. Já não sei viver sem ti.
- Eu sei.
- Fazes-me falta, preciso tanto de ti.
- Bem sei.
- Não seria nunca capaz de voltar aos dias em que não te tinha por perto. O meu mundo já não o conheço sem ti.
- Sim, eu sei.
- Nos dias em que não te tenho na minha mão, deixo-me levar pelas saudades. Pesadas, densas, sem fim.
- Hum, hum.
- Tu não?
- Sabes bem que sim. Os dias sem ti não são dias. Nos dias sem ti não sou mais que um resto, uma sombra de mim.
- Adoro-te tanto.

O telefone dele toca.
- É a Teresa, tenho que ir. Desculpa, mas já sabes que ela fica logo desconfiada se não atendo.
- Sim, eu sei.

E ela baixou o olhar.

Conversa de corredor

- Espera aqui.
- Aqui, assim?
- Exactamente. Para ver se ninguém nos ouve.
- Ah, eles querem lá saber de nós!
- Isso pensas tu! Sabes que afinal aquilo sempre parece que é mesmo verdade?
- Aquilo?
- Sim, daqueles dois. Eu logo vi! Não te dizia?
- Sorte a deles.
- Como assim...? Sabes perfeitamente que são casados e não é um com o outro..
- Por isso mesmo. Sorte a deles. Pelo menos têm com que se entreter...

domingo, 13 de novembro de 2011

História pedida 18 (por Maria, «a minha camisa preta»): No Escuro

É no silêncio da casa que me ponho a pensar, a imaginar, a lembrar. Beijo os meus amores, um por um e sento-me no meu canto, no meu escuro, no meu nada, de copo na mão e a cabeça a voar. É o meu momento. Já não quero saber das horas, nem do que me espera na manhã. É quando lembro o cheiro dos amores perdidos e é quando invento o que ainda há-de vir.

É neste momento que, muitas vezes, vou até à comoda que um dia foi da minha avó. Vou ao encontro da minha camisa preta.

Embrulhei a nossa história naquela camisa. Cheira a liberdade e a amor, aos nossos corpos despidos e a todos os ais supirados. Cheira a um perfume que não é só meu.
Cheira aos tempos de desprendura e de palavras eternas. Cheira aos meus cabelos ao vento, colada a ti nos domingos de Praia Grande. Cheira ao que fomos juntos e ao que sonhávamos ser.
Cheira ao dia em que te foste em busca de uma revolução para o nosso país, para o nosso mundo. Cheira aos meus dedos na tua pele enquanto me dizias Adeus.
Cheira às memórias de ti e do eu que já fui, em tempos, longe deste tempo e desta vida.
Cheira a sonho de criança. Cheira a rituais de mulher.
Cheira a tudo o que fui e ao que acabei por não ser.
Cheira a crescer e a renascer em todos os meus silêncios. Cheira a história de mim.

Esta camisa tem nos fios histórias que só eu sei e vai ser para sempre assim.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

História pedida 17 (por Olinda Melo, tema Perto de Casa)

Anda aqui para perto de casa, para perto de mim. Anda para aqui onde o céu é mais azul, as àrvores mais altas e os rios correm devagar. Anda comigo, com os pés na minha sombra, enquanto te demoras num olhar. Salta neste arrepio sem fim, comigo, enquanto te abraço e te digo que te quero tanto assim.

Deixa-me beijar-te a longa trança, deixa-me enrolar-te num novelo sem fim. Suspiro na encosta do teu peito e vejo-te a desvaneceres levemente em mim. Cantei-te todas as danças, torneei-te em todas as noites. Sem ti desencontrei-me do resto e esqueci-me do que havia em mim. Mas se estivermos por aqui, perto deste nosso sítio perfeito, onde te embalei em todas as artes de mim, onde os nossos filhos se fizeram e cresceram, se estivermos por aqui, consigo sossegar e parar o medo que cresce daninho em mim.

Sabes que sem a tua quentura à minha beira deixo de ser eu,  já nem sei que sou. Sabes que é entre as paredes da nossa casa que consigo finalmente respirar? Lentamente, devagar.

Pois então ata-me aqui à nossa casa, ao nosso mundo, a ti, prende-me para eu não ir. Não quero perder-me como das outras vezes, confundido com um cheiro a ti que não o teu, atrás de um passo bamboleante que não o teu, perdido em alguém que não és tu. Por isso fica aqui comigo, pertinho de casa, de nós, da vida que levamos, para não me deixar levar uma outra vez pelo que me acena ali na esquina, por umas pestanas demoradas, por um gesto que não o teu. 

Sou fraco, bem sabes, e hoje quando saíste para um dos teus sítios, esqueceste-te de trancar a porta e eu senti-me sozinho, lembrei-me de sair, de arejar, e ela lá estava ao fundo da estrada que corri, chamou-me, apertou-me - estava tão longe de casa, de ti - e lá deixei eu ir-me outra vez, perdido de ti, de mim, de nós.

Isto tudo para te pedir: não voltes a sair, não vás para longe, fica sempre aqui pertinho de casa, das nossas árvores, do céu tão azul, do rio que hoje está a correr tão devagar. Minha querida, só mais desta vez, prometo, deixas-me ficar?

domingo, 6 de novembro de 2011

História pedida 16 (por Anónimo, sobre Fogo de artifício) O Tempo de Nós

Veste a camisa verde de que tanto gosto. Sim, essa. Lembras-te que era a que tinhas vestida daquela última vez que vimos os fogos lá no alto? Sim, os fogos lá na festa da aldeia, que giravam sobre a nossa cabeça e nos rebentavam nos ouvidos. Sim, sei que não rebentam nos ouvidos, mas era o que parecia, que estavam mesmo dentro de mim, o coração apressava-se e as minhas mãos à volta de ti.
Sim, sei que é fogo de artifício que se diz - que agora dizes-, mas sabes que cresci a ouvir falar do mês de Agosto dos fogos, das festas, do regresso dos que se foram para França, das noites sem fim a bailar com a concertina.
Não te lembras tu? Tenho saudades desses tempos, de quem nós eramos, de como eu era sempre a primeira que tiravas para dançar e as outras a morderem-se, porque era a mim que querias. Acabávamos a noite, eu toda embrulhada nessa camisa verde, tu de camiseta a tentares acertar com as pedras redondas no branco da lua que enfeitava o rio.
Foi antes de virmos aqui para a cidade, onde o mundo corre mais rápido, a vida desaparece-nos entre os ponteiros do relógio e perdemo-nos de nós nesta casa onde nunca deu para ver os fogos no Verão.
A ver se é desta que voltamos à terra em Agosto. Já sei, já sei que nunca queres deixar a loja, que não te apetece voltar àquela gente, nem às lembranças da tua amostra de vida por lá, que cresceste no meio da podridão e das sapatadas do teu pai, mas não te lembras? Nao te lembras de como esqueciamos tudo nas noites de festa, os fogos lá no alto, a música dentro de nós, eu a apertar-me contra ti a pedir à primeira estrela a eternidade para aquele momento?
Ali eramos só nós e o cheiro a eucalipto, o sorriso vinha cá de dentro bem fundo e o tempo durava todos os segundos que queríamos. Anda cá, deixa-me ao menos apertar-te, aposto que a tua camisa verde ainda cheira a eucalipto e a Verão.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tempos de Crise

Aqui chove muito. Chove muito, muito, muito. Chove tanto que até nos esquecemos da côr do sol. E da secura do seu calor.
Chove tanto que o chão está sempre numa lama amarelada, o cabelo num emaranhado, a roupa mole de tanta humidade. A pele sempre branca e os lençóis a cheirarem a molhado.
Os animais também estão diferentes, sempre escuros e ensopados. As crianças correm atrás dos cães de pêlo colado, fogem dos cavalos enlameados.
É uma chuva que só vendo, porque miudinha, miudinha, quase que nem se vê e aquelas nuvens pesadas cinzentas não nos deixam perceber o tudo que aí vem. Provavelmente mais chuva para os nossos dias, o sol mais longe, um cheiro a bafio que se entranha no fundo de tudo.
E nós lá vamos levando a nossa vidinha assim, dentro de nós, vivendo pouco, lembrando muito dos dias de sol, do calor na cara e das crianças a chapinharem no tanque.
Aqui chove muito, muito, muito, mas em tempos não era assim.
Sabemos levar isto, sabemos viver com o novo tom pardo das coisas e até conseguimos rir levezinho de tudo o que mudou.
À noite, antes de deitar, olhamos para o céu sempre carregado, na esperança de uma pequenina nesga, um prenúncio de um dia melhor. Ainda sorrimos o sorriso mais triste, quando nem uma estrela se adivinha.
Com a cabeça na almofada lembramos os dias de puro sol que já tivemos e adormecemos na certeza que o melhor ainda há de vir.  

What a mess

Ás vezes fico na dúvida se é de mim que gostas, ou se é da ideia de mim. A sério que fico sem saber se gostas da pessoa que sou, do eu que sou, ou se é apenas do conceito do nós em ti e para ti.

Talvez se eu fosse outra que não eu e tivesses este nós também com ela, talvez fosse igual para ti e tivesses a mesma ânsia dela que tens de mim.

Quando dizes que não me queres perder, penso eu logo «nao é a mim, é a nós». Porque agora que abraçámos o nós, o deixámos crescer e corremos todos os riscos, agora é agarrá-lo o mais que pudermos. Pensas tu. Acho eu que pensas assim. Mas eu não.

Se tiver que perder o nós, perco. Se tiveres que desaparecer, desaparece o nós e não é igual se aparecer um outro tu qualquer. Porque não é da ideia de ti que gosto, não é da ideia de nós. Aliás, o conceito do nós é o que menos me apetece, o que mais me sufoca e me deixa a cabeça a tremer. 

É de ti que eu gosto, de ti, e é só por isso que há um nós.

Será que me consegues perceber?