Dona Sofia comia e lia, comia e lia e era assim que vivia. De vez em quando, uma vez por dia, encolhia-se e ria. Do quê, não sabia, mas ria e ria até que mais não podia.
A vizinha Maria chegava-se à janela, ajeitava-se e dizia
«Dona Sofia, Dona Sofia então como vai ser o seu dia?»
Ela, na cadeira que rangia, atirava um «Nada» que gemia.
A Vizinha Maria encolhia os ombros magros numa delicadeza que até doía, voltava-se para dentro e lá ia.
Dona Sofia gorda e pesada, lia e comia, comia e lia, pensando que assim vivia.
Mas, assim que anoitecia, na cama gelada e fria, Sofia lembrava o que já fora, lembrava que um dia naquela cama já tivera companhia.
Chorava pela sua cria, que se fora atrás de uma qualquer vadia, deixando a mãe - que mãe e pai sempre seria - só, gorda e fria. Desde pequeno sempre o quis bem debaixo da asa que agora se lhe pendia.
Não sabia do seu menino, há anos que não o via, não o cheirava, nem o ouvia e era nos livros que o tempo mais corria, nas vidas dos outros que não foram deixados em valente agonia, de outras gentes de vidas contadas com alegria.
Dona Sofia às vezes ria. Mas o porquê só ela sabia. Talvez fosse nervoso, talvez um nada, talvez fossem os astros em sintonia...só ela sabia, só ela percebia.
O seu menino quando voltou, de loira pelo braço, criança no ombro e carro de elevada categoria, já só soube da mãe, da gorda e só Dona Sofia, por esta cantilena que o povo inventou, chorando a triste sorte da perdida e vazia Sofia.
Tão giro! Parece uma cantilena popular, que giro!
ResponderEliminarGostei!
Querida:
ResponderEliminarQue ternura! Que tristeza!
Estou muito em baixo e, fiquei trémula, ao ler a litania da D. Sofia.
Beijinho, linda.
Mary
Querida Mary que se passa? Espero que esteja melhor,mas animada..Bjs
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