Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

terça-feira, 12 de junho de 2012

Santos populares

Dona Sofia comia e lia, comia e lia e era assim que vivia. De vez em quando, uma vez por dia, encolhia-se e ria. Do quê, não sabia, mas ria e ria até que mais não podia.
A vizinha Maria chegava-se à janela, ajeitava-se e dizia
«Dona Sofia, Dona Sofia então como vai ser o seu dia?»
Ela, na cadeira que rangia, atirava um «Nada» que gemia.
A Vizinha Maria encolhia os ombros magros numa delicadeza que até doía, voltava-se para dentro e lá ia.
Dona Sofia gorda e pesada, lia e comia, comia e lia, pensando que assim vivia.
Mas, assim que anoitecia, na cama gelada e fria, Sofia lembrava o que já fora, lembrava que um dia naquela cama já tivera companhia.
Chorava pela sua cria, que se fora atrás de uma qualquer vadia, deixando a mãe - que mãe e pai sempre seria - só, gorda e fria. Desde pequeno sempre o quis bem debaixo da asa que agora se lhe pendia.
Não sabia do seu menino, há anos que não o via, não o cheirava, nem o ouvia e era nos livros que o tempo  mais corria, nas vidas dos outros que não foram deixados em valente agonia, de outras gentes de vidas contadas com alegria.
Dona Sofia às vezes ria. Mas o porquê só ela sabia. Talvez fosse nervoso, talvez um nada, talvez fossem os astros em sintonia...só ela sabia, só ela percebia.
O seu menino quando voltou, de loira pelo braço, criança no ombro e carro de elevada categoria, já só soube da mãe, da gorda e só Dona Sofia, por esta cantilena que o povo inventou, chorando a triste sorte da perdida e vazia Sofia.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Hoje, em Junho, nevou

Hoje apetece-me que me escrevas, me enchas com palavras tuas. Hoje seriam duras, frias, brutas como tu sabes ser. Apetece-me ler-me entre as tuas letras e virgulas, apetece-me que sejas tu a escrever-me.
Não estou para coisas dóceis, nem imbecilidades. Estou para crueza, frieza, tudo o que for áspero e certeiro. Na mouche.
A água gelada com que me vais esfriando, dia a dia, momento a segundo, vai por aqui escorrendo, encontra-se toda junta na minha sombra molhada e acompanha-me, dia após dia, mesmo que eu, pisando-a, finja não a ver
Hoje estou dura, estou pedra, estou rocha.
Hoje perdi os sonhos de menina, acordei na realidade. Alternativa.
Hoje apetece-me que me faças uma declaração de amor, num sítio público, mesmo sem dizeres quem és, nem quem sou. Só assim umas palavras que eu veja logo o quanto sou tua e que vale a pena esperar  por ti. Se é que existes, se é que és o homem para mim.
Agora estou a precisar de um colo, talvez para chorar, talvez só para não me sentir tão perdidamente sózinha. Só. Talvez até para me rir sem parar, me rir feita tonta, me rir esquecida do resto, me rir perdida, e logo encontrada no canto do teu sorriso igual ao meu.
Hoje estou assim, meia coisa, meia estranha. Meia-meia.
Fazia-me bem dormir, acabar com os disparates, sossegar a minha sombra, sossegar-me a mim.
A cama vazia não ajuda, mas a promessa de nós sim.