Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Banho Maria

Já deixaram alguém em banho-maria? Pois não o queiram fazer. 
É doloroso, nao só para o sujeito banhado - obviamente -, mas muito para quem o faz.
O sujeito ora se contorce e estrebucha indignado com o que se lhe está a suceder, ora se põe de cabeça para baixo, de jeito amuado, tentando desaparecer; ora ainda se deixa estar a flutuar no quente como se nada estivesse para acontecer.
E nós, perpretores de tão terrível feito, sentimo-nos atordoados,doridos, sem saber bem o porquê de fazermos aquilo - tal atrocidade! - mas numa necessidade incontrolável, visceral, de o fazer. Dói cada gemido que se ouve, cada súplica calada, cada palavra abafada. O sujeito ali, em lume brando, a marinar, a perguntar sem o fazer: até quando, até quando isto vai durar, até quando este entontecer, este atordoamento, este queimar lento? Para quê, para quê?
E nós ali, olhando, incapazes de mais, vamos controlando o lume, tentando que não queime de vez, esturrique, se desfaça e desapareça, a contar os segundos até esta necessidade ruim desfalecer.
Não queiram pôr alguém em banho-maria. Não é bom, nem pode ser. Custa e repuxa, dá medos por dentro de não se saber qual o ponto certo, a solução, o fim à vista. Não há receita que nos guie, conselho que nos valha, só deixar acontecer.



 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Alerta amarelo II

Saltaste o telhado,
escondeste-te no mato,
mergulhaste no tempo do poço escuro
afogando-te assim,
para tocar os pés no fundo,
voltar para mim.

Na falha do precipício, na volta do mundo,
correste assim, fugiste,
largando-me na margem
de um lago espelhado,
um lago direito e sossegado,
numa volta, num revolteado,
no cheiro a alfazema
do tempo abandonado

Correste de mim, fugiste
disseste-me e não ouvi
tonta que estava, sorrindo que estava
E as palavras voavam soltas

no dia cinzento em que nasci
perdida de mim
em ti  

sábado, 3 de novembro de 2012

Alerta amarelo

Dou  por mim a gostar de dias de chuva. Antes não gostava; dias presa em casa, sem praia, sem rio, sem ar livre eram suplício. Mas agora sabe-me bem, estar em casa, no morno, agarrada aos meus meninos deslumbrados com a água que cai do céu. Embrulhamo-nos uns nos outros, falo-lhes com voz de mistérios e descobertas, eles atentos, de olhos bem abertos, apaixonados por mais uma novidade.
«E o vento mãe, por que não vem o vento e a trovoada mãe?» Sorrio. Nunca gostei de trovoada, a força estrondosa da natureza assusta-me. Mas agora gosto, gosto mesmo, gosto de estar com os meus meninos enrolados numa cama virada para a janela e ver os relâmpagos, contar até aos trovões, senti-los encolherem-se em mim com um sorriso de nervoso e felicidade.
Por isso espero que além desta chuvada e dia cinzentos de hoje, ainda venha um valente vendaval, uma trovoada daquelas, para tê-los sossegadinhos, agarradinhos a mim, admirados com o que se passa lá fora, enquanto aqui neste abraço tudo é perfeito.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A menina Aguaceiro II

Tenho sede dos teus beijos; a minha boca sente uma falta imensa da tua. E isto não é conversa pseudo-poética, é literal, físico, visceral e eu nunca pensei que se pudesse sentir a falta de alguém desta forma tão violentamente intensa.

Corro os nossos recantos na esperança inconfessada de um acaso em que nos encontremos. Re-encontremos de corpo e alma. Soa forçado, mas não é, de todo, é sentido em todos os poros e terminais de mim.

Fico aqui em frente ao rio, como tantas vezes ficámos, num sítio nosso e penso no que será de nós.

Tu dóis-me. Dóis-me, custas-me, pesas-me, por gostar tanto e tanto de ti. Mas há momentos em que a ausência de ti é insuportável, que a tristeza entra por mim dentro e sinto os braços cairem, eu toda a tombar e com vontade de deixar-me ir sem chão.

Corro, fujo, distraio-me, finjo não sentir, não lembrar, não querer. Passo à frente, ao lado, por cima. Escondo-me por dentro, viro-me do avesso, tento seguir, seguir, andar, passar, correr.

Mas há momentos assim em que a falta de nós entra pelo meu dia a dentro e só uma pergunta toda cheia em mim: como foi que Gostar muito de ti passou a ser Gostar demasiado?