Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

História pedida 12 (por UmJeitoManso - verso de M. Rosário Pedreira): Anda

"Quantas pessoas caminham na minha direcção? Quantas me descobrem por entre a multidão e pousam os seus olhos inteiros nos meus olhos?" M. Rosário Pedreira

Parte I

As ruas cheias de gente
A porta mal fechada
O vento que sopra quente
O brilho do céu na estrada

Segue só e em si abraçada
Os olhos dos outros prendem-na num fio
No passo demorado e na vontade de nada
Enchem-na de silêncio e arrepio

É mais uma no meio de tantos
à espera de ser encontrada
Agora a perder-se em prantos
Leonor vai pela pela estrada

Parte II

Pouco formosa e nada segura, Leonor vai pela calçada. Procura ansiosa o número 23, que tão bem conhece. Desvia o olhar do porteiro. Não tarda estará enrolada no sofá encarnado, no seu cais, e deixará de sentir os olhares de todos os outros em si. No seu corpo, na sua pele. A invadirem os seus olhos, a devassarem o que há bem dentro de si.
Agora recostada, de pés descalços enquanto ele a olha do canto da sala. Conta-lhe mais uma vez do que lhe custa andar no meio de outros, de outros que não conhece, nem quer conhecer. Uma coisa inexplicável, bem sabe, mas é o que a arrepia ao passear no meio de toda aquela indiferença que ali se une, nos passeios, nas estradas, cheios de gente que corre, de olhar vazio e respiração apertada. A tocarem-se sem quererem. A tocarem-na, a invadirem-na. Ainda se alguém lhe perguntasse o nome, segurasse pela mão enquanto corriam juntos para um destino qualquer, ainda se tivesse alguém que a quisesse por perto, a quem ela pudesse contar das suas coisas e das suas ânsias... Mas não. Todos correm e nem a vêm. Olham-na, enterram a sua frieza nela, mas não a vêm.
Se não fosse aqui este nosso tempo, esta nossa calma, não sei que seria de mim, diz-lhe ela. Ele nada. Aqui ao menos posso falar de tudo e sinto que esses teus olhos não estão vazios e me ouvem até ao fundo. Aqui consigo respirar como é suposto, conto-te disto que me sucede e sei que tu entendes. Pelo menos ouves-me, sem correr. Sem correres. Aqui já consigo demorar o passo em que levo a minha vida e sei até que me tocarás a mão sempre que eu estiver a precisar. 

Ele olha para o relógio. «Leonor, o nosso tempo de hoje acabou. Sugiro que passes a tomar o ansiolítico também ao almoço. Podes marcar hora para a semana ali junto da enfermeira. Por hoje é tudo».

Parte III

No tempo que passas preocupada com o hoje, já o podias ter apanhado. Entre as mãos. Apertavas, cheiravas, tornavas teu. Nosso. De mansinho encostavas-me ao teu peito e deixavas-me estar.
Os ponteiros correm e se tu os parasses só por um instante, perceberias que afinal sou eu quem procuras. Os meus olhos já encontraram os teus no meio das gentes todas que passam entre nós.
Se me deixares vou olhar-te bem no fundo de ti, bem longe do que mostras, bem perto do que eu te quero.
Leonor, se parares por hoje, se me deixares a tua janela aberta, trago-te em braços, vivo-te em palavras, guardo-te bem dentro de mim.
Olho-te mais uma vez no teu passo desacertado enquanto te espero aqui, na minha porta do 23. Aqui estou todos os dias à espera que seja hoje que os teus olhos param nos meus, que ouves os versos que fiz e que sorrias enquanto tos segredo de mansinho ao ver-te passar.
Hoje quando saíres vou fazer-te parar.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Conversa a dois

Vieste?
Vim.
Ver-me?
Ver-te.
Porque demoraste?
Faltavas-me tu.
Faltava-te eu..?
Sim. Faltavas tu a dizer-me para vir.
Pensei que entre nós não eram precisas palavras.
Pois não. Mas às vezes sabe bem.
Que me querias ouvir?
Que me queres.
Quero-te. Muito. Tanto.
Não chega. Quero mais.
Mais?
Quero a tua mão na minha. Leva-me até ti.
Espera. Faço antes assim. Encosta a tua mão aqui no meu peito. Sentes o que eu sinto quando te tenho perto?
Sim.
Quando estás longe, pára. Em suspenso.
Tens razão. Entre nós não são precisas palavras. Há mais. Bem mais.
Até dá medo, sabes?
Medo?
Desta perfeição.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

On s'en va

T’arrives et je te demande rien
On se rencontre chez nous
Je sais pas ce que tu veux
Notre vie n’est la

Rien pour te donner
Aucun mot pour te dire
Chaque jour on se perd
Notre amour n’est la

Tes mains sur la table
On sait pas quoi faire
Nos yeux sont pas les mêmes
Notre monde n’est la

Adieu mon cher
Tout est changé
Notre vie, notre amour, notre monde
Rien pour te donner

sábado, 24 de setembro de 2011

História pedida 11 (por Henrique Antunes Ferreira - sem tema): Coisas Simples

A Senhora Dona Teresa nasceu fidalga em nome e condição. Além dos oito nomes que lhe enchiam o BI e romanceados cartões de visita, corria-lhe no corpo pálido o sangue azul de abastados bastardos da realeza francesa.

Filha de Conde e Condessa, crescera no casarão do Restelo a arredondar a boca para dizer «sófá» (assim mesmo com dois acentos, assassinando a gramática portuguesa), «piqueno» e «retrete». Já para não falar da facilidade em que dividia o mundo entre pessoas «civilizadas» e pessoas «simples».

Cresci a acompanhar a minha mãe a casa da Fidalga. Sentava-me no chão ao lado da tábua, enquanto via passar os vestidos de popeline, seda selvagem e cetins coloridos.

Corria entre a criadagem que a Senhora Dona Teresa guardava um misterioso segredo. Volta não volta desaparecia por umas boas horas, normalmente ao final do dia. E começaram a reparar que o ensebado, encardido e ensonado Jardineiro, velho-relho que mal se aguentava nos canivetes, desaparecia também pela mesma altura.

Um dia resolvi-me a resolver este mistério irresolúvel. Não a perderia de vista, de ouvido. Compensou. Enquanto sentada na sombra das buganvílias, o Jardineiro passou de levezinho. «Está tudo preparado. Lembrei-me: será que a Senhora não prefere ir para um hotel?». Silêncio aprofundado. «Não. É mais arriscado».

Pois então não é que a Fidalga e o «simples» do Jardineiro andavam mesmo na boa-vai-ela-e-mais-ele?? Esperei. Ao chegar das 18h levantou-se cautelosa, deixou o livro no banco de mármore, foi até ao fundo do jardim e entrou no barracão das ferrugens do Jardineiro.

Deslizei até ao barracão e em pontas espreitei por uma fresta. A Senhora Dona Teresa desfazia-se em palavrões de fazer corar as pessoas mais «simples»; o Jardineiro num desasossego. A televisão a passar o jogo do Benfica, no chão assentadas garrafas de minis e cascas de pevides. E ela vermelha. A chamar pelo Glorioso. Pois então que a Senhora perdia a fidalguia, a pose e o esmero com o seu Benfica. Mistério resolvido. Afinal era tudo uma questão de simplicidade.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Curta metragem

His name was Jack. He was a jerk. Her name was Annie. She was a baby.
Jack loved Annie but not that much. She kind of liked him, but not so much.
Somehow they got together. Somehow they got married. And then came their children. And then their grandchildren.
Then the winter came and took Jack away.
And now Annie lingers all day long at the window wondering what happened to her life after all.

Slow Motion

De repente uma vontade súbita, incontrolável e urgente de dançar contigo. Dançar um slow, como dizíamos no antigamente.

Agora os miúdos não fazem ideia do que é um slow. Como é que começam os namoros nas festas e nas boites? Não consigo imaginar. Se calhar é por telemóvel, sms's, mms's e assim. Os beijos, os primeiros beijos, até devem sair abreviados, como as siglas com que escrevem as novas declarações de amor, tudo a correr, tudo com pressa.

Mas então que de repentemente me deu uma vontade doida de estar a dançar contigo, num espaço e tempo só nossos, com uma música que fosse a nossa, embrulhados no nosso silêncio e no que estaria para vir. Em tudo o que estaria para vir de nosso.

Podia ser assim a nossa primeira noite juntos. Como cantava o Godinho, o primeiro dia do resto das nossas vidas.. O dia, a noite em que tudo se consagraria, os olhares, os gestos, os toques, as promessas.. A noite em que seríamos, finalmente, um do outro.

E a música a tocar e nós a dançarmos devagarinho, bem colados, bem encaixados, talvez eu a murmurar a nossa música no teu peito, talvez tu a prenderes-me com a boca a curva da minha orelha, talvez as nossas mãos um no outro, nas estradas um do outro e a certeza de que a partir desse momento estávamos apenas a começar.

Devagarinho, devagarinho, como num slow.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Eras tu

Assim chegaste tu, suavemente, com os teus pézinhos de perlimpimpim, como eu passei a gostar de dizer, nesta minha vontade de criar palavras novas, carregadas de sentido, tanto que uma só palavra carregue o sentido de duas ou três, de passados, sentimentos, de tal forma que nos deixe a pensar. Como aquele escritor, que se farta de inventar e que tanto me deixa a magicar. «Esferográvida», «a lembrança encostada», e sei lá que tantas outras mais.

Gostava de ter esse dom, essa mágica, de criar palavras novas, palavras pensantes que nos deixem de cara à banda de cada vez que as lemos e não conseguimos pereber como é que ninguém se tinho lembrado delas antes.

Mas, como se escrevia, assim chegaste tu, doce, docemente, embrulhado nos teus silêncios, com pézinhos de perlimpimpim, de tão leve, dessa tão insustentável leveza do seres tu, acercaste-te de mim, sopraste-me qualquer coisa que não percebi na boca do meu ouvido e tal como vieste também te foste. Pois, esses pózinhos que deixaste no ar, com o teu rasto, o teu cheiro, a tua leveza é que foram para mim uma promessa do teu regresso, do certo prazer com que te abraçaria brevemente.

Pois foi assim que esperei e esperei, entre longos suspiros assobiados, divagações aivadas e textos mal paridos. E pois foi assim que vieste, quando eu já não te esperava mais. Mas já não vinhas com os teus pézinhos de perlimpimpim, a tua insustentável delicadeza, nem o teu cheiro a ti.

Esqueceste-te de entrar doce, docemente, como quem chama por mim, de te vestires do teu perfume a ti, a anjo caído dos céus e apartado nos meus braços e dos teus sussuros suspirados, enquanto me davas prazer até eu não querer ou poder mais.

Queria-te como antes, com a tua insustentável gentileza, pluma caindo do céu, pôr do sol no fim da linha, transparência absoluta, manso, mansinho, de olhos abandonados.

Mas isso já não eras, sei que já não voltarás a ser, porque quando o foste eu estava de luzes apagadas, no meio da escuridão do silêncio, escondida no meu e teu mundo, alheia aos ventos e às marés. E por isso sei que não te vi como és.

Ando às voltas para achar uma palavra que me ajude a explicar isto que se me sucedeu. Não consigo lembrá-la nem inventar uma nova, carregada de sentido que faça sentido. Nem mesmo com estes teus pózinhos de perlimpimpim.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Renascimento


Perdi-me algures no meio de mim. No meio da descoberta de mim. Perdi-me e agora já não sou quem pensava que era.

Estou tão feliz. Tão infinitamente feliz. Cada vez que te sinto crescer cá dentro. Cada vez que me mostras tão claramente que existes, que finalmente existes e eu anseio por aninhar-te nos meus braços. Estou tão feliz. Espero que apertar-te contra o meu peito seja o suficiente para o outro lado de mim sossegar. Porque - a sério -, só a ideia de ti me faz sorrir. Sinto-me feliz, a voar quando te sinto e com o aproximar da tua chegada.

Mas depois não percebo nada do resto. Não percebo nada do resto de mim.

O meu amor por ti já é tão grande, tão imenso, tão inteiro e perfeito...como é que ainda tenho espaço para estas confusões, estes labirintos, estes espaços sem saída? Fazes-me falta.

Ás vezes penso que há uma explicação para trás, bem para trás do hoje, aqui e agora. Porque não sinto que haja maldade em mim. Pelo contrário. Mesmo. Mas depois faço e torno a fazer e não consigo contornar este eu em que me tornei, ou estou a tornar, ou sou.

Espero que seja um eu passageiro. Um qualquer processo tardio de crescimento. Uma qualquer descoberta perdida de mim, que acabe quando te tiver finalmente nos braços e sorrir o meu sorriso mais feliz para ti.

sábado, 17 de setembro de 2011

Em jeito de agradecimento

Estou finalmente aqui sentada no alto de mim vazia de palavras vazia de pontos vazia de olhares só a querer parar a querer sossegar porque este dia está a chegar ao fim sem parar sem parar um instante que fosse na correria do tempo que passa voa vai-se e só agora um bocadinho de mim para mim no silêncio da casa que dorme das paredes que respiram devagar suspiram antecipando o novo dia que não tarda a chegar carregado de minutos e segundos que não param nunca de acontecer e eu lá vou seguindo vivendo respirando passando e estranhando as tantas vezes que sorrio as tantas vezes que agradeço por mais um dia mais um dia assim no meu mundo corrido vivido querido sem espaço sequer para respirar mas é bom assim gosto assim quero assim. Obrigada.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Fadinho dos apaixonados

Queria-te aqui, aqui, aqui.
A tua mão na minha
a minha na tua
e ficarmos assim, só assim.

Deixávamos o tempo escorrer, deixávamos o mundo rodar,
deixávamos tudo acontecer
e nós só assim, assim aqui a sonhar.
Deixa-me dizer-te
Deixa-me beijar-te
Deixa-me querer-te
Deixa-me tocar-te
no fundo, no fundo de ti
e saber que, afinal, já te senti

Enrola o corpo no meu
esquece o que está lá fora
entrega-me tudo o que é teu
não penses mais, agora

E encosta-te, aquece-te, perde-te
leva-me por aí fora

Mas não me percas, não me deixes
Afinal não te quero só assim
Quero ainda mais, quero tanto mais
de ti para mim

Meu doce
minha paixão,
menina eu fosse
para caber ainda na tua mão

No autocarro

"Entao não dizes nada do meu cabelo novo? Está curtinho.."
"Esse cabelo não é teu. É meu"
Ela aperta-se ainda mais no peito dele. Sorri.
"Mas tu puxas-me o cabelo, só o tratas mal.."
"Por isso mesmo é que é meu. Para eu fazer de ti o que quero".
"Qualquer dia corto-o mesmo curtinho, de máquina e tudo só para tu já não o poderes apertar"
"Eu vou arranjar sempre maneira de te puxar para mim"
Ele não vê, mas ela continua de sorriso pendurado.
Silêncio.
"Tenho saudades do teu corpo."
Suspiram. Os dois.
"Ja te expliquei.. O problema não és tu, sou eu. Deve ser uma fase ou assim.. Depois passa."
Silêncio
"Mas sim, gosto do teu cabelo assim. Fica-te bem"
Ela não o vê, mas ele já não sorri.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

História pedida 10 (por blog A Minha Travessa do Ferreira) : O Amolador de Facas e Tesouras

Era uma vez uma Maria de Fátima, uma Fátinha qualquer, uma Fátinha como as outras, que se debruçava à janela a ver os que passavam e se passeavam pelas ruas de Belém.

Olhava e rebolava, suspirava e arfava e voltava a entrar para o seu Zé, um Zé qualquer, um Zé como os outros. Voltava a sentar-se junto a ele, os dois colados, talvez dessem as mãos, talvez suspirassem em uníssono, talvez se deixassem assim ficar até o dia acabar.

Mas esta Fátinha tinha o coração num sobressalto, nem mesmo a respiração pesada do seu Zé a conseguia acalmar, os seus olhos não paravam de tilintar, os dedos de saltitar, a boca de abrir e fechar. O coração quente, as mãos suadas, mas a pele gelada.

Esta Fátinha não se cansava de pensar e repensar e moer e remoer e dar voltas e meias voltas, os neurónios fervendo, os cabelos caindo pelos ombros, o cheiro a suor do corpo colado ao do seu Zé, e que nunca mais chegavam as malditas 5 horas, 5 menos um quarto e que vai de volta ele podia passar mais cedo e vai na volta e podia adiantar-se, apressar o passo, chegar antes da hora de sempre, passar uma vez mais debaixo da sua janela, piscar o olho para o alto do seu 2º andar e vai que ela não lá estava, vai que ela estava colada ao lado do seu Zé e não via?

Por isso mais uma vez se levantava, mais uma vez corria para a janela, corria sem correr, para o seu Zé não perceber, para não ter que lhe voltar a responder, fugindo dos seus olhos mortiços, que não era nada, era o calor, - eram mas é os calores! -, que vinha arejar, apanhar ar e mais uma vez ficava na janela, olhava lá para o alto de onde o outro haveria de aparecer, na ânsia de o ver chegar, de o ver passar vagaroso debaixo da sua janela e atirar uma piscadela de olho, em jeito de piropo, para o ar.

E nisto andava Fátinha, senta, levanta, anda, rodopia, espreita, suspira até que chegam as 5 menos 5 e aí decide postar-se à sua janela sem arredar pé, o seu Zé pede-lhe uma cerveja, ela diz, já vai Zé, não tira os olhos lá do alto, o coração a saltar, a vontade de gritar por ele, onde estás, porque não apareces meu malandro, o Zé a gritar, traz lá o raio de uma cerveja Fátinha, ela impacienta-se, o raio da flauta que nunca mais se ouvia, então Fátinha ?, já vai Zé, e então parece que sim, que o está a ouvir, mas é preciso muito para me ires buscar o caraças de uma cerveja Fátinha?, já disse que já vai Zé, já vai!, vê-o ao longe, em passo dançado, abraçado à bicicleta, debruçado sobre a pedra de afiar, mas Fátinha vê-o, sim, é mesmo ele, e bolas Fátinha mas do que é que estás à espera?, e ele aí vem, de andar compassado, animando a calçada, passa por baixo da sua janela, olha para cima, deita um olhar guloso à Fátinha, a Fátinha que empoleirada lá no alto está roxa que nem um rábano, pisca-lhe o olho malandro, redondo, castanho, ela sorri o seu sorriso de moça atoleimada e ele lá segue no seu passo dançado, confiante que haverá fregueses, anunciando-se com a sua música soprada.

Fátinha suspira, olha e rebola, dá meia volta, vai lá dentro, encosta a cerveja gelada ao peito escaldante, volta bamboleante, Toma Zé aqui está a tua cerveja, e assim se deixam ficar, colados, suados, até o dia acabar.

SMS's

«Que tens?»
«Saudades»
«Anda»
«Onde?»
«A mim»
«Apetecia-me que dissesses: para um sítio nosso»
«Como assim?»
«Uma casa nossa»
«Sabes que não podemos»
«Mas eu quero à mesma»
«Não se pode ter tudo»
«Pois não, bem sei»
«Mas querias muito?»
«Quero (tu não?)»
«(não vale a pena sequer pensar nisso) Minha Querida»
«Meu amor»

terça-feira, 13 de setembro de 2011

The Love Song ( to all my international love(r)s )

Thought of you last summer
Thought of you last rain
Thought of you every moment
Thought of you every day

Leaning against my chin
You told me this gentle song
Nearby my burning skin
You teached me how should I go along

So the path you chose for us
Is what will make me stay
Keeping me from running, thus
I should really hide away

Then come with me in the morning
Come along our way
Touch me every quiet moment
Tell how will we play

Your hands against my skin
Laugh at me as I slowly fade,
Wash of every haunted sin
Keep me dreaming outside the shade

My love

(inspired by this beautiful song:)


História pedida 9 (por A Ronda dos Dias - frase para início da história): Os Outros e mais Nós

AO CONTRÁRIO DE TODOS OS OUTROS, FORAM INFELIZES DE UM MODO COMPLETAMENTE BANAL.
É que nem um dramazinho, uma dificuldade digna de registo ou sequer um amor impossível em todos estes anos que já se tinham passado. Desde o sim, nada. Só aquela mornice dos dias que corriam - não, que escorriam -, devagarinho, devagarinho sem doer.

Logo eles que estavam avizinhados dos mais extraordinários acontecimentos e vidas complicadas, naquele bairrozinho antigo de Almada, encostado ao Castelo, as casas velhas espreitando o Tejo. Abundavam as histórias de fins shakesperianos, pescadores sem regresso, filhos desencontrados, amantes descompassados, doenças catastróficas e coisas assim.

Mas eles não, ali andavam naquela secura de dias. Numa rua em que todos tinham uma história mais tenebrosa que a do outro para contar, eles eram banalmente infelizes, assim uma coisinha sem sal, uma sensaboria, um dó de história. Os outros olhavam-nos com estranheza, pois então como podia ser, nestes anos todos, naquela rua esquecida, meia suja, meia salgada, onde tudo era pobre e em que tudo o que era ruim parecia acontecer. Mas àqueles dois não. Nada.

Certa altura ainda se ensaiaram na ficção das doenças, só para não passarem por mal educados, só para não terem nada a dizer, só para não parecer que se queriam mais e maiores que os outros. Mas mesmo isso foi um sem-fim de banalidades; as infalíveis dores de costas, artrites e artroses, azias e bicos de papagaio e, em desespero de causa, até uns joanetes.

Cedo se deixaram de modas, porque tudo isto era imediatamente suplantado com as respostas que versavam sobre os «enurismas», os níveis olímpicos do «castrole», as noites de febre em que não se dormia com as «convicções» e até os «abc’s» que pareciam acontecer porta sim, porta não.

Deixaram-se então ficar cada vez mais pendurados na janela sobre o Tejo, a ver os males dos outros a passearem.
Um fim de dia ele virou-se para ela « Será que afinal nós somos mas é felizes?»
«Pois, se calhar é isso». Pegou-lhe na mão com doçura e sorriu.

domingo, 11 de setembro de 2011

11/09/2001 - O dia em que o menino Jesus morreu

Crescemos a ouvir falar do nosso querido Menino Jesus.
Ensinam-nos a todas as noites rezar pela sua protecção, a adorá-lo e a beijar os seus pezinhos amarelados no fim da procissão.
Crescemos a ouvir dizer que o Menino Jesus protege todos os meninos do mundo e que protege os seus pais, avós e todos a quem se quer bem.
Crescemos a ouvir que se nos portarmos bem, se não fizermos judiarias, se formos bons uns para os outros, o Menino Jesus nos acalentará sempre no seu peito e nenhum mal nos vai chegar.

Crescemos a ver o Menino Jesus todo engalanado em dias de festa, com o seu ar melancolicamente doce e acreditamos que tudo o que nos disseram sobre a sua luz protectora, infinita e que não conhece fronteiras, só pode ser verdade. E sorrimos felizes, aquecidos por dentro porque sabemos q alguém olha por nos, sempre e sem descanso. Por todos nós em todo o lado. Por todos os meninos e por todos os que já cresceram.

Mas então pai, o que aconteceu hoje ao Menino Jesus, pai? Na televisão só vemos este terror todo lá na América, pai - até estou com frio pai, a sério que estou a tremer - tanta gente a morrer, tantos meninos a ficarem sem pai, sem mãe, sem alguém que lhes é querido, tanta gente a chorar, a doer, pai, ai que se vê o tanto que lhes dói.. Que se passa que não há ninguém a protegê-los, estão tão infinitamente sozinhos, pai, assustados pai, ninguém os ampara; mas que se passa pai? E viste aquela senhora cinzenta, cinzenta porque carregada de cinza, tão assustada pai, sem parar de gritar o nome do seu filho, que não sabia do seu Jesus, que não o encontrava no meio de toda aquela perdição, de todo o pavor, de todo o medo… 

Que aconteceu pai? Hoje o menino Jesus morreu?

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

História pedida 8 (por Anónimo: fotografia de pêssego): Fim de Verão

                                    
Ofereceu-lhe um pêssego.
«Um pêssego??» disse ela de sobrancelhas arregaladas.
«Sim, pega, um redondo, gordo, quente pêssego.» Tinha acabado de o apanhar. Ainda tinha as mãos a colar. Isto de apanhar um pêssego assim no meio do nada, sem experiência nenhuma na apanha da fruta nem em nenhuma outra apanha sequer, tinha muito que se lhe dissesse. Estava muito cheio de si mesmo. Um belo e opulento pêssego para entregar à sua «mais-que-tudo-que-é-tão-linda-e-que-eu-quero-tanto-e-para-sempre-e-sempre». Afinal já era um homem. Um homem capaz de chegar às árvores mais altas, sem a ajuda de ninguém, mesmo àquelas que parecem roçar o céu, tocar o sol e as estrelas.

«Sim, um pêssego para ti. Apanhei-o sozinho. Mas então não é a tua coisa preferida?»

Ela sorriu. Sim, era verdade. Pêssegos uns atrás dos outros mal chegava o calor. Lembravam sempre as tardes passadas entre os pessegueiros no moinho e onde o levara este Verão. Para sentados pararem o tempo enquanto devoravam pêssegos de todas as cores. E ela contava-lhe como crescera, as histórias que a tinham desenhado vírgula a vírgula, até ser esta que é hoje. E assim passaram horas e dias e semanas até já não haver sol e o vento amainar.

«Mas meu mais-que-tudo-que-és-tão-lindo-e-que-eu-quero-tanto-e-para-sempre-e-sempre, na praia não há pessegos, não há pessegueiros, não há árvores sequer. Não vês que isso é o bolo que acabámos de comprar à senhora do tabuleiro?»

Ah, então é isso, afinal não é um pêssego. É uma bola de berlim. (mas o sorriso da mãe é igual ao das tardes no moínho.Estou feliz à mesma.)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

História pedida 7 (por Anónimo: foto futebol): Missão Impossível

«Tu nunca choras». Ouvi estas palavras sairem assim de mim. Nunca te vi chorar. Afinal não era uma afirmação, é uma pergunta. «Porque nunca choras?». Nem agora que o teu pai morreu. Há uma semana que te esperava ver chorar e nada.

«Não sei. Não me lembro de chorar. Não me lembro da última vez, não é coisa que me faça falta».

Fiquei a pensar no que me dizias de olhar perdido na televisão. Fazer falta? Não, não é uma questão de fazer falta. É uma coisa assim de ser pessoa, de ser gente, de sentir. Então eu, que tenho sempre uma imensidão de lágrimas bem à flôr da pele.

«Ah, já sei. Chorei quando foi aquele golo do Rui Costa para a Liga. Foi mesmo lindo.»

Sai-me um ai bem suspirado. Nem uma amostra de vulnerabilidade, nem um vislumbre de precisares um bocadinho do meu colo ou de mim.

Já passámos por tanto, já me viste perdida no fundo de mim, já tivemos sustos e pontos finais. Nem naquele dia que saí para não mais voltar, em que te disse tudo, com a maldade mesmo a querer saltar para fora de mim, magoar-te, doer-te como tu me dóis a mim. Nem assim. Nem assim uma única lágrima tua. É verdade que não demorei mais que duas horas a voltar. E tu em frente à televisão como se nada tivesse sido.

Hoje cheguei a casa e encontrei-te de lágrimas nos olhos. A chorar! Sorri, feliz. Até que enfim um bocadinho de pessoa a sair de dentro de ti. Sentei-me ao teu lado preparada para finalmente te ter no meu colo, no meu abraço.

«Granda golo, caraças! Granda Benfica, pá!»

E é por isso que estou agora gelada a chorar.

                                                                  Pablo Aimar - Fotolog | http://www.fotolog.com/raquelguerreiro6/42078426

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Amor I Love You

Hoje dei por mim a pensar em ti.

Quer dizer, nao é que tenha sido só hoje, como tu bem sabes, porque eu há muito tempo que penso muito em ti, de muitas maneiras diferentes e em muitas horas não contadas dos dias que correm devagar.

Mas hoje dei por mim a pensar em ti de forma diferente, de forma mais pensada e calada.

Nao te assustes com a palavra «amo-te». Ela pode não ser assim tão séria, nem tão formal.

É que eu amo-te sabes, neste meu amor fácil e sem prendura, deste jeito impensando e consagrado em todas as tuas palavras no meu ouvido, em todos os teus gestos em mim. Amo-te assim sem esse peso que a todos deixa consternados e ensimesmados, como um pesadelo bem carregado a pairar e a acompanhar-nos todos os dias destas vidas.

É que o meu amor é assim facil, sabes, assim puro, sabes, uma coisa só assim de mim para ti, leve e desprendida como todo o amor devia ser. Eu amo-te nesta minha forma de te amar, com este amor que é só teu, com esta ligeireza que é só minha para ti. Por isso não te assustes com o que te escrevo ou digo, porque eu te quero assim só por querer, só por me quereres, sem laços a prenderem-nos, sem vontades de mais. Porque te quero amar só assim, deste jeito fácil e esquecido.

É que assim não custa, sabes, assim doem menos as ausencias e as solidões. Assim não se pensa nem sente tanto. Porque assim é só assim, à flor da pele e sem medos de mais.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

História pedida 6 (por Anónimo - frase de Fernando Pessoa): POST-IT

Olhei em volta e não te vi. Procurei em cada quarto, em cada sofá, em cada cama e não te vi. Não te vejo em parte nenhuma da nossa casa. E já não sei há quantas horas, dias, semanas que não te vejo. Que não me lembro de ti.

Hoje os miúdos perguntaram-me por onde andavas e foi por isso que te vim procurar. Porque não sei responder.

A última vez que me lembro de te ver foi naquele outro dia – há quanto tempo? uma semana, um mês? -, em que me irritei mais uma vez contigo, porque no meio da gritaria de todos os dias com estes quatros refilões que temos como filhos – que eu tenho como filhos, porque tu, tu mal os vês, não é? sempre o trabalho, as reuniões, o ginásio e até a tua mãe que não largas -  pois que no meio da gritaria matinal, dos cereais no chão, das dentadas do Lourenço à Maria e dos puxões de cabelo entre as gémeas, ainda conseguiste tu partir o meu copo. Aquele que trouxe de casa dos meus pais, aquele da minha viagem de finalistas a Lloret e que guarda bem a memória da rapariga que fui – era tão assustadoramente leve, eu, quero dizer, eu nessa altura – e tu partiste-o, cacos espalhados pelo chão, no meio de restos de comida, carrinhos e meias pequeninas, e tu a apanhá-los vagarosamente enquanto eu me desfazia em gritos e em nervos.

Depois estranhei que não tivesses dito nada. Nem gritos, nem a conversa do costume, que já não olho para ti, que já não te toco, já não me lembro do que era sermos nós, já não me conheces e o anda cá, descansa, pára cinco minutos no meu peito e eu digo Que disparate! não vês que os miúdos têm que ir para o banho, ou para a escola, ou dormir ou outra eventualidade qualquer.

Mas nesse dia não disseste nada. Viraste as costas. Espera, acho que antes de te ouvir fechar a porta da rua, ainda vieste à cozinha. Sim, acho que me lembro de te ver colar um papel no frigorífico no meio dos cinquenta e três recados que por lá colo para não me esquecer de tudo o que há a fazer na pequenez dos meus dias.

Olha afinal ainda cá está

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa

Ah….

E o post-it caiu no chão.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

História pedida 5 (por A Materia dos Livros - foto no metro): Linha Amarela



ELA:
Escrevo sobre ti, para ti, a ti. Todos os dias te vou desenhando mais um pedacinho, neste meu caderno pautado que trago no colo, enchendo as folhas brancas com aquele que serás tu. Tu para mim.
Quando paro nesta estação e lá estas sentado à espera da tua vez, quer dizer, da tua linha, descubro mais um bocadinho daquilo que é seres tu e lá vem para o meu papel. Hoje a camisa azul, ontem o guarda-chuva, naquele primeiro dia o meio sorriso. Pareceu-me que era para mim.
Um dia hás-de levantar-te, entrar na minha linha e sentar-te ao meu lado. Todos os dias aqui passo a caminho da escola. Sabes, lá chamam-me Senhora Professora, mas eu só quero que algum dia alguém me chame Meu Amor. Podes ser tu. Ou melhor, queria que fosses tu.

A SENHORA QUE SE SENTA ATRÁS:
Vejo-a sempre ali de caderno no regaço e ponho-me a imaginar o que será o mundo desta menina-velha que todos dias aqui vejo. Sempre na mesma cadeira, sempre o mesmo ar esperançoso e cabelo bem apanhado.
Vejo-a escrever devagarinho, lentamente, com cuidado. Tenho a certeza que também é assim que leva a vida. Um dia hei-de esquecer-me da dor na anca e do que me custa levantar, chamo-a e digo-lhe para acordar, que qualquer dia já não tem mais dias e que até um simples levantar vai custar-lhe a coragem do mundo.

ELE:
Um dia ela vai sair nesta estação, vem ter comigo e hei-de pedir-lhe para ver o caderno que poisa delicadamente sobre as pernas. Depois levo-a pela mão e vamos passear na rua. Pode ser que seja amanhã.

História pedida 4: (por Olinda Melo sobre o seu Xaile de Seda): Amália

Aqui sentado no cadeirão encarnado que ladeia a tua cama, vejo-te dormir. No teu corpo nada, só o xaile de seda em que te embrulhas para adormecer. E o teu cabelo negro estendido nos lençóis.

Minha querida minha doce minha paixão que te quero tanto. A minha vida já não a sei viver sem ti.

Há anos que acompanho o tudo que és e o que ainda queres ser. Sempre em puro encantamento de ti. Vou dizendo-te, baixinho, sossega, sossega minha querida, não te deixes ir em cantigas. Porque tu levas dia e noite, anos e vida, a ouvir todos os fados que encontras à espera de encontrar em algum um bocadinho de ti.

Deram-te o nome da tua mãe e o xaile de seda em que te embrulhou quando te deixou no abraço dos tios. E a música que ainda cantas a adormecer, dizem que era a tua mãe que a cantava para ti.

Esta é pelo menos a história que te contaram. Que te contam. A história que te fez e ainda faz feliz.

Eu tive um xaile de seda
que em tempos me fez sonhar
Lembra-me sempre de ti
De tudo o que não quero largar

Eu tive um xaile de seda
que cheirava a Amor
tinha a cor do meu sangue
e uma ponta de oiro em cada flor

Eu tinha um xaile de seda
que afinal nunca foi meu
embrulhei-o com força no peito
e no coração que é teu

sábado, 3 de setembro de 2011

História pedida 3 (fotografia de um casal num protesto): Adeus

Foram tantas as portas a que bati, tantos os nãos que ouvi. Até chegar aqui. Mas não é assim que esta história começa. Pelo menos não por agora.

Cresci no meio de máquinas fotográficas, negativos, objectivas, e casas de banho às escuras para revelarmos por magias encantadas os trabalhos do meu pai. Cresci maravilhada com este mundo fantástico. Com estendais de fotografias a encherem-nos a casa, os corredores, os quartos e a vida, momentos de outros e de outros mundos, casamentos e guerras, chacinas e aniversários, pessoas de sítios tão longe que nem do alto do meu pequeno mundo conseguia imaginar. A cada momento que o meu pai passava em casa - sim, porque eram tão poucos - desenhava-me com a sua voz profunda e cansada as aventuras que acabara de viver, as vidas que acabara de conhecer.

E dizia-me sempre que um dia, um dia haveria de conseguir a fotografia de uma vida, aquela que lhe traria o reconhecimento e que o permitiria finalmente sossegar, não falhar-me um colo nas constipações, um beijo nos aniversários, nem um gesto a cada dia do que fui eu a crescer.

Uma noite, depois de muitos dias sem ti pai, a mãe chegou-se ao pé de mim de voz pesada e olhos no fundo do chão. Que não ias voltar mais. Que não iríamos saber mais de ti, nem das vidas que andavas a viver, nem dos mundos em te andavas a perder de nós.

Cresci e fiz minha uma das tuas máquinas. Fiz para mim um bocadinho da tua vida. Tendo andado a correr mundo e histórias à espera de conseguir ser um bocadinho de ti. Foram tantas as portas a que bati, tantos os nãos que ouvi. Até chegar aqui.

Tudo por causa de uma madrugada de confusão e dor, em que dei por mim meio perdida - não estou ainda habituada a isto, sabes pai, escondi-me porque eu não tenho a tua coragem, sabes pai - em que deixei-me ficar com medo que algum polícia carregasse em mim, ou que algum dos jovens enraivecidos me tomasse por alvo. Foi então que os vi. Ele correu para ela e com um beijo encostaram-se no chão. Desligados do mundo, sabes pai?

E por isso olha, consegui, consegui a tua fotografia que precisavas para sossegar  e ficar para sempre perto de mim. Nem quero saber dos prémios que recebi, nem das portas que se abriram, nem da eternidade que me encontrou com esta fotografia. Estou só aqui, no meio dos meus estendais de vidas penduradas, à tua espera. Pai...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

História Pedida 2 (Música «You said something» - PJ Harvey): Ontem



Tantas são as vezes que me pegas pela mão. Tantas as vezes que me puxas para ti enquanto nos rimos de um nada qualquer. Tantas são as vezes que me perco a olhar para ti na certeza que te quero.

Neste mês que passou não nos largámos. Praias, noitadas, cinemas e muita festa. Nós e mais outros. Mas não me perguntem quem eram, não me perguntes, porque eu só tive olhos para ti. Sorri toda cá dentro de todas as vezes que me ligaste para nos encontrarmos, de todas as mensagens em que me perguntavas Então e amanhã? e sempre que mostravas alguma vontade de mim.

Ontem não te consegui largar o abraço, ai esse teu abraço doce que me tortura a cada despedida, e tu estranhaste. Olhaste bem para dentro de mim e percebeste tudo. Leste-me do princípio ao fim. Pegaste-me na mão e procuraste a tua voz mais terna.

"Ouve, nós nunca vamos ser menos que dois, percebes? Quero ter-te na palma da minha mão, sempre bem perto de mim. Preciso-te, gosto-te. Mas só isso... Nunca seremos um, percebes? Eu não te quero assim. Por isso anda, deixa-me pegar-te na mão e levar-te comigo, enquanto me procuro. E até pode ser que no caminho encontre aquela que será a maior parte de mim. Mas vem comigo, que com a tua mão na minha consigo ir mais longe, ver mais fundo, sentir com mais clareza. Tudo é mais facil contigo aqui. Mas só assim."

Ontem à noite disseste-me qualquer coisa importante. Mas foi qualquer coisa que me fez doer. Qualquer coisa que já esqueci.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Best Blog - Distinção oferecida por umjeitomanso.blogspot.com

Foi com muito agrado que recebi este «prémio» que me atribuiu a autora de Um Jeito Manso. E aproveito para agradecer todo o enorme incentivo que tem dado a  esta minha «aventura bloguística» recém-nascida. Pois então que esta distinção vem com 3 regras, a saber:

Regra Nº 1: Revelar quem me atribuiu o prémio  - Como referi acima foi a mui-inspirada autora de umjeitomanso.blogspot.com, autora de 3 outros blogs que abaixo convidarei a visitar..

Regra Nº2:  Partilhar sete factos pessoais - Pois que aqui a coisa se complica, já que sou avessa a grandes intimidades.. Mas então, num esforço hercúleo ou por aí..:

- Nasci para ser mãe. Apesar de ser um lugar-comum e de até crescido com essa certeza, não foi assim há tanto tempo que tive essa revelação ao ter o meu primeiro filho nos meus braços. Sem eles, de facto, não sou nada. Não é ninguém. É que não sou nada mesmo.
- Cresci na incerteza do signo a que pertenço. Depende sempre da revista. Já viram a confusão que isto faz na cabeça de uma pessoa..?
- Adoro ler e adoro escrever. Ou seja, adoro a palavra escrita. Ao ler entro noutros mundos e custa-me parar um livro, quando o começo, para mim era do princípio ao fim, sem interrupções. A escrever. Escrever é mais que um prazer. É uma necessidade.
- Não ligo a pormenores. Ou melhor, não tenho paciência para detalhes e perfeccionismos. O que considero uma séria falha. Daí que não seja raro encontrarem faltas de acentos, letras trocadas, etc, nos meus textos. A melhorar, portanto.
- Tenho uma memória muito selectiva. Mas independentemente selectiva. Esqueço-me de coisas que até achava bem não esquecer. Por exemplo, nunca sei dizer que nomes de autores ou títulos de livros já li. E já foram infinitamente tantos..
- Tenho uma vontade constante de ser melhor. Mas uma preguiça inerentemente humana de pôr em prática as tantas ideias que tenho. Shame on me.
- (têm mesmo que ser 7?? Ufa!) Gosto da intensidade. Em tudo. Coisas mornas só muito de vez em quando...

Regra nº3: Atribuir o prémio Best Blog a outros autores - Com a desculpa de ser caloira nestas lides, cinjo-me a 4, em forma de reconhecimento pela sua companhia neste meu:

- http://ginjalelisboa.blogspot.com/ - autora de Um Jeito Manso e muito produtiva em termos de blogs
- http://xailedeseda.blogspot.com/ - a querida Olinda que tão bem me entende
- http://amateriadoslivros.blogspot.com/ - que muito gosto de ler
- http://rabiscosincertossaltoemceuaberto.blogspot.com/ - um blog que transborda sentimento e sensibilidade