Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

domingo, 29 de setembro de 2013

Mudanças de hora

Era uma casa muito engraçada, não tinha tecto, nem porta, nem nada. Era uma casa nossa, depenada, despencada, desencontrada de todas as outras. Era nossa.
Muitas vezes chovia dentro, ventava até, gelávamos por baixo da pele e batíamos os pés no chão em desatino. Quase que gritávamos. Encostávamo-nos cada um a seu canto, procurando fugir do que molha, fugir do que esfria, fugir do mau tempo que havia no meio da nossa casa sem tecto.
Não demorava muito até eu o procurar, entre tremideiras e suspiros, ou ele chegar-se a mim de mansinho, encaixando-me no seu abraço, como precisávamos os dois.
Claro que também havia os dias do sol fervente, do calor que não se podia, enchendo a casa, a nossa casa, de suores e impaciências, o desespero por uma sombra, uma frescura para nos aliviar, encostados à parede, derretidos no chão.
Nos dias suportáveis tocávamos a ponta do pé um do outro, em jeito de comunhão - isto não se aguenta, não penses em encostar-te que não dá - e escorríamos os dois, às vezes sorrindo, outras apenas de olhos fechados à espera que passasse.
A nossa casa não tem telhado, para o bem e para o mal.
Nestes tempos em que o Verão se vai e começamos a ver os dias a desaparecerem mais rápido do que o relógio mostra, ficamos apreensivos a pensar no que virá. Sabemos que voltamos, voltamos sempre, mas Invernos houve, tão gelados e escuros, em que nos mudámos, cada um para sua casa, longe daqui, longe um do outro, tentanto a vida numa casa igual às outras.
Podemos demorar mais ou menos, mas voltamos, voltaremos sempre, porque esta casa é a nossa e sabe bem encostar-me a ele, a minha mão procurar o dentro da sua camisa, encontrar o quente, oferecer-lhe tudo o que sou de cima a baixo, de fora para dentro e aquecermo-nos assim um ao outro. Mesmo com a chuva a pingar-nos a testa e o vento bravio a entrar ainda antes da noite. Mas sorrimos porque estamos em casa, na nossa casa. E porque vamos sendo felizes assim.

sábado, 21 de setembro de 2013

O nosso jardim

Tanggled up in our strange hard knots
briething just becomes easier
with your mouth silencing our thoughts
your dark eyes right here

while your hand shivers down my legs
my skin eagers for all of you
and your gentle voice on my fingertips
makes me smile brand new

You told me «we should dance»
and sang me that little song
(the one we heard on the disco years ago)
and in our bed I danced along

Perfection has no timming
You and me will have no ending
Our knots will keep us together
all of our lifes just blending

The path was not chosen
it came to us with the flow
all the knots are to be broken
here we are dancing slow

(and now we laugh,
 head to head,
 skin to skin,
and it's me who is now singing
our prettiest love song) 

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Fim de Verão

Perguntava-me assim: ah então isso quer dizer exactamente o quê? E eu encolhia os ombros e dizia «Sei lá eu!».
Ficávamos, então, de mãos dadas a olhar o horizonte no topo do parque de Monsanto. Do Monsanto dizia ele. De, dizia eu. E o silêncio. Mas dos bons. Estávamos mais juntos que nunca. Tanto tínhamos horas infinitas de conversa, da mais fácil à mais intensa, como tínhamos os nossos silêncios enamorados. Enamoramento. Eu de queixo apoiado na garrafa de água, toda sorrisos por dentro, enquanto o olhava a almoçar. Ele que me encostava a mão na cara e me olhava no fundo do fundo com o seu sorriso raro, brilhante.
Um dia disse-me «Tudo em ti é meu» e eu acho que ri do bem que me soube e nem percebi que aquilo foi praga que me rogou. Agora tudo em mim é dele. Nem a distância, nem a ausência, nem o pouco que há. Gosto de saber que pensa em mim, que lembra, que no fundo ainda quer.
Agora que voltou - de mulher e filhos no abraço, de cabelo mais branco, de pele menos macia, de sorriso mais gasto e de olhar, ai o olhar, mais perdido, mais fugido de mim - sou ainda mais dele. Raio de praga infalível, inquebrável, doída que faz doer. É Agosto e todos voltam. Ele voltou sete anos mais tarde. Sete anos depois de nos termos rendido à impossibilidade de uma equação em que as parcelas não vão convergir. Queria aventura, queria dinheiro, queria mais. Eu queria este meu canto, estes meus cheiros e abraços. Um dia por muitos dias fomos infinitamente felizes e agora sete anos mais tarde, volta a agarrar-me na mão enquanto estou no seu colo, estamos no topo de Monsanto, as Amoreiras aqui tão perto, as casas, as outras vidas e amores e agora volta a pedir para esperar, que as crianças são pequenas, que não quer deixá-las fragilizadas, que sempre pensou que a outra seria afinal a sua mulher para sempre, mas que agora só me quer a mim.
Mas afinal a outra sou eu. E mesmo com ele aqui tão perto, não temos mais que os encontros de fugida, os olhares inquietos, os telefonemas que chegam sempre cedo demais.
Houve uma altura em tudo foi fácil e só tínhamos conversas tontas e eu chamava-lhe coisas doces e ele dizia-me as palavras mais queridas. Depois desencontrámo-nos e não nos resta mais do que este eterno desencontro. Eu até posso esperar, já lhe disse que sim, mas ele não me diz quanto tempo, não me diz mais do que o quanto me quer e sempre quis e que afinal tudo nele é meu. Quase tudo, gemo eu. Falta o resto. Esse resto que são os nossos dias que nos faltam e a tua mão na minha sempre que eu quiser. Ao longe vejo-te com as tuas crianças entre sorrisos e brincadeiras. Ela, a outra que não é a outra, põe-te a mão no ombro e eu penso, mais uma que está tão perdida quanto eu. Mas eu não tenho o cheiro a ele na minha almofada e já não me chegam as tardes no banco no topo de Monsanto, as Amoreiras vigilantes e a promessa de um dia.
Falta-me a coragem para ir. Mas também sei que já não posso ficar.
«Ah e então isso quer dizer exactamente o quê?»
«Sei lá eu».