Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Aurora

Uma menina pequenina, pequenina, rodopiava sobre si mesma e cantarolava uma música triste. Mas sorria e até lhe podia ver os olhos a brilhar. Era uma menina doce, de longas tranças negras, vestido de folhos encarnados a encher os ombros e o fim da saia que rodava e rodava sem parar.

Esta menina, pequenina, tão pequenina estava sozinha e nem dava pelo tempo passar. As mãozinhas abertas deixavam o vento bom correr entre os dedos e a pele arrepiava-se em minúsculas bolinhas com o frio que lhe enchia a barriga e o peito. A menina estava sozinha mas estava feliz. Era o sabor da liberdade que tinha na boca, nos olhos, na pele e se rodopiava sem parar era porque nada mais lhe apetecia fazer. Só assim a sentir o bom que é ser feliz. E solta, livre, a voar.

Parámos todos a olhar, quietos, mudos, sem percebermos bem ao que vinha e porque ali se demorava; não sabíamos se devíamos perguntar-lhe o que quer que fosse ou agarrar-lhe a mãozinha rosada para ver se a fazíamos sossegar. A respiração presa, uma vontade sem vontade de a fazer parar.

A menina pequenina, mesmo pequenina, sozinha, tão sozinha nem via os tantos que agora a rodeavam, sem saberem o que fazer ou pensar, enleados naquela canção triste e doce, naquele rodopiar sem parar, no encarnado dos folhos, nas perninhas roliças incansáveis, no imenso sorriso que a enchia de flores e coisas boas por dentro.

Um a um fomos desviando o olhar, seguindo o caminho, não querendo pensar se ela ficaria sozinha por mais um minuto ou uma vida, mas com uma inveja a crescer-nos por dentro, com vontade daquele sentimento puro e leve, com vontade de cantar, de dançar ou mesmo com um mundo inteiro na palma da mão.

Estou aqui no meu canto e lembro-me daquela menina encantada, sozinha no meio dos crescidos que a olhavam admirados e sorrio, sorrio mesmo de dentro para fora e do princípio ao fim de mim, porque agora percebi: ela sou eu.


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