Perguntava-me assim: ah então isso quer dizer exactamente o quê? E eu encolhia os ombros e dizia «Sei lá eu!».
Ficávamos, então, de mãos dadas a olhar o horizonte no topo do parque de Monsanto. Do Monsanto dizia ele. De, dizia eu. E o silêncio. Mas dos bons. Estávamos mais juntos que nunca. Tanto tínhamos horas infinitas de conversa, da mais fácil à mais intensa, como tínhamos os nossos silêncios enamorados. Enamoramento. Eu de queixo apoiado na garrafa de água, toda sorrisos por dentro, enquanto o olhava a almoçar. Ele que me encostava a mão na cara e me olhava no fundo do fundo com o seu sorriso raro, brilhante.
Um dia disse-me «Tudo em ti é meu» e eu acho que ri do bem que me soube e nem percebi que aquilo foi praga que me rogou. Agora tudo em mim é dele. Nem a distância, nem a ausência, nem o pouco que há. Gosto de saber que pensa em mim, que lembra, que no fundo ainda quer.
Agora que voltou - de mulher e filhos no abraço, de cabelo mais branco, de pele menos macia, de sorriso mais gasto e de olhar, ai o olhar, mais perdido, mais fugido de mim - sou ainda mais dele. Raio de praga infalível, inquebrável, doída que faz doer. É Agosto e todos voltam. Ele voltou sete anos mais tarde. Sete anos depois de nos termos rendido à impossibilidade de uma equação em que as parcelas não vão convergir. Queria aventura, queria dinheiro, queria mais. Eu queria este meu canto, estes meus cheiros e abraços. Um dia por muitos dias fomos infinitamente felizes e agora sete anos mais tarde, volta a agarrar-me na mão enquanto estou no seu colo, estamos no topo de Monsanto, as Amoreiras aqui tão perto, as casas, as outras vidas e amores e agora volta a pedir para esperar, que as crianças são pequenas, que não quer deixá-las fragilizadas, que sempre pensou que a outra seria afinal a sua mulher para sempre, mas que agora só me quer a mim.
Mas afinal a outra sou eu. E mesmo com ele aqui tão perto, não temos mais que os encontros de fugida, os olhares inquietos, os telefonemas que chegam sempre cedo demais.
Houve uma altura em tudo foi fácil e só tínhamos conversas tontas e eu chamava-lhe coisas doces e ele dizia-me as palavras mais queridas. Depois desencontrámo-nos e não nos resta mais do que este eterno desencontro. Eu até posso esperar, já lhe disse que sim, mas ele não me diz quanto tempo, não me diz mais do que o quanto me quer e sempre quis e que afinal tudo nele é meu. Quase tudo, gemo eu. Falta o resto. Esse resto que são os nossos dias que nos faltam e a tua mão na minha sempre que eu quiser. Ao longe vejo-te com as tuas crianças entre sorrisos e brincadeiras. Ela, a outra que não é a outra, põe-te a mão no ombro e eu penso, mais uma que está tão perdida quanto eu. Mas eu não tenho o cheiro a ele na minha almofada e já não me chegam as tardes no banco no topo de Monsanto, as Amoreiras vigilantes e a promessa de um dia.
Falta-me a coragem para ir. Mas também sei que já não posso ficar.
«Ah e então isso quer dizer exactamente o quê?»
«Sei lá eu».
Ficávamos, então, de mãos dadas a olhar o horizonte no topo do parque de Monsanto. Do Monsanto dizia ele. De, dizia eu. E o silêncio. Mas dos bons. Estávamos mais juntos que nunca. Tanto tínhamos horas infinitas de conversa, da mais fácil à mais intensa, como tínhamos os nossos silêncios enamorados. Enamoramento. Eu de queixo apoiado na garrafa de água, toda sorrisos por dentro, enquanto o olhava a almoçar. Ele que me encostava a mão na cara e me olhava no fundo do fundo com o seu sorriso raro, brilhante.
Um dia disse-me «Tudo em ti é meu» e eu acho que ri do bem que me soube e nem percebi que aquilo foi praga que me rogou. Agora tudo em mim é dele. Nem a distância, nem a ausência, nem o pouco que há. Gosto de saber que pensa em mim, que lembra, que no fundo ainda quer.
Agora que voltou - de mulher e filhos no abraço, de cabelo mais branco, de pele menos macia, de sorriso mais gasto e de olhar, ai o olhar, mais perdido, mais fugido de mim - sou ainda mais dele. Raio de praga infalível, inquebrável, doída que faz doer. É Agosto e todos voltam. Ele voltou sete anos mais tarde. Sete anos depois de nos termos rendido à impossibilidade de uma equação em que as parcelas não vão convergir. Queria aventura, queria dinheiro, queria mais. Eu queria este meu canto, estes meus cheiros e abraços. Um dia por muitos dias fomos infinitamente felizes e agora sete anos mais tarde, volta a agarrar-me na mão enquanto estou no seu colo, estamos no topo de Monsanto, as Amoreiras aqui tão perto, as casas, as outras vidas e amores e agora volta a pedir para esperar, que as crianças são pequenas, que não quer deixá-las fragilizadas, que sempre pensou que a outra seria afinal a sua mulher para sempre, mas que agora só me quer a mim.
Mas afinal a outra sou eu. E mesmo com ele aqui tão perto, não temos mais que os encontros de fugida, os olhares inquietos, os telefonemas que chegam sempre cedo demais.
Houve uma altura em tudo foi fácil e só tínhamos conversas tontas e eu chamava-lhe coisas doces e ele dizia-me as palavras mais queridas. Depois desencontrámo-nos e não nos resta mais do que este eterno desencontro. Eu até posso esperar, já lhe disse que sim, mas ele não me diz quanto tempo, não me diz mais do que o quanto me quer e sempre quis e que afinal tudo nele é meu. Quase tudo, gemo eu. Falta o resto. Esse resto que são os nossos dias que nos faltam e a tua mão na minha sempre que eu quiser. Ao longe vejo-te com as tuas crianças entre sorrisos e brincadeiras. Ela, a outra que não é a outra, põe-te a mão no ombro e eu penso, mais uma que está tão perdida quanto eu. Mas eu não tenho o cheiro a ele na minha almofada e já não me chegam as tardes no banco no topo de Monsanto, as Amoreiras vigilantes e a promessa de um dia.
Falta-me a coragem para ir. Mas também sei que já não posso ficar.
«Ah e então isso quer dizer exactamente o quê?»
«Sei lá eu».
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