Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Nada na manga

Um dia vi um mágico. Tinha uma cartola rosa, largas mangas verdes, sapatos turquesa enormes. Na realidade mais parecia um palhaço que um mágico. Mas era mesmo e era só meu. Naquele dia meu tive um mágico só para mim.

Fez truques indizíveis, fez magias inenarráveis. Eu toda concentrada, compenetrada, séria e sisuda, a admirar a solenidade daquele momento em que finalmente tinha alguma coisa de importante minha e só minha. À minha volta risinhos e gargalhadas, palavras soltas, ocas, que nem conseguia entender. Aquele momento era meu.

Esse dia já vai longe, nem me lembro ao certo quando foi. Ainda não era esta que sou agora, ainda não tinha este peso todo, este carrego de rugas e cabelos brancos. Ainda não tinha estas marcas e cicatrizes, ainda não tinha aquilo que hoje é meu. Pode ser pouco, cabe até na palma da minha mão seca e rude, mas é meu.

Esta vida na cidade cansa-me cada vez mais e já não sei se não vou mas é voltar para casa da minha mãe. Que agora está fria e gelada, portas e janelas fechadas, os bichos a passearem-se por ali, à procura de qualquer coisa que não há.

Não há nem nunca houve, a bem dizer. Tudo ali era escuro, gelado e infimamente pouco.

Mas eu e a minha mãe lá íamos levando os dias, trabalhando muito no campo ralo, as mãos roxas, geladas do frio da madrugada, as noites encolhidas uma na outra, o pouco que havia para comer. Até ela ficar doente e ir-se de vez. E eu sozinha fiz-me à estrada e aqui vim dar.

Este nunca foi o meu lugar. Nem o frio menos frio, o trabalho menos duro, as gentes menos ásperas, nada disto me soube - nem sabe -  a casa.

Tenho andado a pensar nisto há uns dias, se não estará no tempo de voltar. Quem sabe se ainda por lá anda o mágico que um dia me fez corar ao oferecer-me uma desfiada rosa encarnada. Tirou-a da cartola e entregou-a a mim. Para ficares mais feliz, disse ele. E eu, finalmente, sorri o sorriso que nunca tinha experimentado.

Sim, já decidi. É hoje que vou voltar.

1 comentário:

  1. Amiga:
    Chega sempre, mais ou menos cedo, a vontade de voltar ao local de origem. Às vezes, é bom. Outras, só encontramos ruínas das ruínas, que deixámos, sombras dos sonhos que tivemos. É esse o grande perigo de voltar. Eu, tenho a mania de voltar ao passado em imaginação. Assim, não há perigo. Tudo está como deixei.
    Beijinhos
    Maria

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