Hora de arrumar os tachos, as panelas, a cafeteira e a colher de pau.
É tempo de esfregar a pedra da bancada, puxar-lhe o brilho, o cheiro, deixá-la como no primeiro dia. Seguem-se as espátulas, os rolos, as formas, os tabuleiros. Não nos esqueçamos dos panos, pegas e trapos.
E depois chega a hora de aproveitar.
O cheiro a pão quente e a bolo no forno enchem a casa tão vazia. A manteiga pronta a derreter no miolo mole e branco, a chávena a ferver com o chocolate. As cadeiras arrastadas, a mesa posta e reposta, os guardanapos de pano geometricamente dobrados, a marmelada bem doce que ate parece gemer. De prazer.
Os copos enchem-se de cor com o sol que passa nas cortinas de linho, os talheres repousam expectantes. O friso de florinhas rosa que se espreguiça nos pratos parece chamar-nos para a mesa.
Calma, aguardemos, não tardam a chegar.
O cuco do relógio ja avisou, estão quase a chegar, estão quase a chegar.
Não tarda vou estar perdida nos seus abraços, risos e graças que não entendo, a correr entre o forno e a mesa, o pão e os pequeninos, entre a vontade de os aproveitar e o querer dar-lhes tudo e mais ainda. Estão quase a chegar os meus meninos, os meninos dos meus meninos e agora tambem os mais pequeninos.
E eu perdida a querer todos, a saber de todos, a tocar todos, a olhar-lhes bem nos olhos a ver por onde andam.
Mas as horas são curtas, têm as suas vidas, o seu próprio tempo, o seu ritmo corrido e não tarda lá se vão de volta, deixando as cadeiras vazias e migalhas por todo lado.
Mas sei que daqui a um ano reggressam, no primeiro dia de cada novo ano voltam para ver-me, para calarem as saudades dos lanches da avó Rute, para me agarrarem a correr, me sorrirem a cada palavra, me dizerem da vida que lhes foge pelo relógio.
Deixem aprontar-me, esta tudo no devido lugar. Ja os oiço no portão lá fora, os meus queridos meninos acabaram de chegar.
Bonito!
ResponderEliminarEsperar os filhos para os alimentar, acarinhar, voltar a tê-los nos braços, é tão doce!
ResponderEliminarGoze bem estes tempos. Quando crescem, as esperas tornam-se longas e, às vezes dolorosas.
Queria voltar atrás, amiga. Ao tempo doce, em que tinha os meus no ninho dos meus braços.
Felicidades para si e para os seus meninos.
Maria