Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

História pedida 21 (por a Matéria dos Livros, versos de Cesariny): Junto a ti

"Entre nós e as palavras, os emparedados, e entre nós e as palavras, o nosso dever falar", Mário de Cesariny, do poema "You are welcome to Elsinore"


 Cheiras-me a colo, a meiguice, a quente. Gosto de afundar assim o meu nariz no teu peito, ouvir o teu coração que bate sempre rápido e encontrar a tua mão na minha.
O teu respirar é doce, tem tempo dentro.
A tua pele está sempre fresca, tenra, boa para eu beijar. Trinco-te a ponta dos dedos e sinto-te sorrir.
O teu olhar sei que está longe, perdido, enquanto eu não me canso de te falar. Falo por mim e por nós. Conto-te do dia de hoje, do que será amanhã, do tempo e dos outros. E tu nada, como cada vez mais sempre. Calada, sossegada, muda dentro de ti.
E a tua voz é tão minha nas poucas palavras que ousas trocar na sombra das noites.
Sei-te perto, estás sempre aqui à minha beira, sempre que te quero, que te preciso. Estás na nossa casa, na nossa vida, nos nossos dias, mas tenho medo que não estejas cá, perdida que estás nesse teu silêncio opaco e profundo.
Respondes-me sempre que «está tudo bem» às minhas insistências cada vezes mais frequentes. Ao meu medo crescente de te estar a perder para esse mundo sem palavras, sem explicações, sem sentimentos ditos. Não é preciso - respondes-me - o tanto que te quero está em tudo de mim para ti, está escancarado para fora do meu corpo, da minha boca, da minha voz.
Convenço-me por uns instantes, enleado nesse teu sorriso onde me perco uma e outra vez. Mas depois voltam estas ânsias, estes medos, esta revolta contra esse teu silêncio com que te vestes e onde me esqueço do resto do nós.
Deves-me palavras, declarações, vontades ditas, letras suspiradas. Deves-me por todas as que te digo a ti, por todas as palavras com que me esforço para encher os nossos dias, esta nossa casa tão oca e vazia, este ar carregado de ausências por tua causai, assim.
Estou emparedado na falta do que não me dizes; a respiração pesada, o peito dorido, a cabeça a estalar.
As palavras já as desencontro, a voz com vontade de se calar.
Está tudo bem, não te preocupes, só já não tenho mais nada para te contar.

4 comentários:

  1. Cara Leitora,
    Espero que goste. Desculpe a demora, mas os pequeninos constipados, o trabalho, os afazeres natalícios, esgotam totalmente o pouco tempo dos meus dias. Muito obrigada pela sua proposta. Adorei

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  2. Minha amiga

    Um excelente história feita de silêncio e silêncios emparedados que impedem a livre circulação dos afectos e...o resultado, saímos todos a perder.

    Desejo-lhe um Bom Natal e muita saúde para si e os seus.

    Beijos

    Olinda

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  3. Gostei muito da história, do modo como deslocou as palavras de Cesariny para as prisões de todos os dias e os silêncios que ferem e criam distância...

    As melhoras da família

    Um abraço

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  4. Querida
    Disse-me tanto esta história.
    Tantas vezes me sinto assim! Depois, fecho-me em longos silêncios, tristes e dolorosos. Bastava uma palavra, um gesto de ternura e, tudo passaria. Não há.
    Beijinhos e um Feliz Natal
    Maria

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