Eu, tu, nós dois.
A sala vazia, a porta fechada. O eco dos outros ainda nas paredes, no chão, nas cadeiras abandonadas. Ali fizeram-se sonhos, criaram-se vidas.
Agora o palco é nosso, só nosso, já não estamos a actuar, ja não estamos a fingir, já somos nós no chão de madeira escura. As roupas ainda não são as nossas, mas a pele sim. O cheiro, sim. Despidos de outros, a sentirmo-nos só assim. No silêncio, no tempo que parou.
Chegas-te a mim. Chego-me a ti e deixo-me ir. O corpo na tua frente, o olhar dentro do teu. A minha mão que anseia pela tua.
Se soubesses tudo o que tenho para te dizer agora, fugirias de mim, eu sei.
Respiro fundo, ganho novo fôlego, as vozes dos outros que aqui estavam, ainda ecoam dentro de mim.
Tu à minha frente - expectante? ansioso? - e nós nada. Ou melhor, e eu nada.
Vejo-te a sorrir de dentro para fora de ti. Calado nos meus olhos.
As letras redondas juntam-se na minha língua, na minha boca, em mim toda.
Encho o peito de ar, olho-te, respiro-te. Coragem, chegou a hora. Sorrio.
«Amo-te».
O actor é um fingidor. Ou é o poeta que é um fingidor?
ResponderEliminarOu, despidos, depois do fingimento que é o teatro, ninguém consegue fingir?
(Este texto fez-me lembrar o filme 'A amante do tenente francês', de que já coloquei o trailer no UJM, filme fantástico com a Meryl Streep e o Jeremy Irons)
'Só nós dois é que sabemos..'
ResponderEliminarSozinhos connosco próprios ou com alguém que faz parte de nós...aí é que nos tornamos autênticos, longe dos holofotes e da ribalta. E é bom poder dizer então, 'Amo-te'.
De grande sensibilidade este texto. Lindo!
Querida Histórias, voltarei para ler e comentar as outras histórias...
Para já, um Ano Novo em pleno, cheio de coisas boas.
Bjs
Olinda
Quero aqui deixar neste cantinho os meus votos de um 2012 em grande: com saúde, sorte, amor, realizações e sucessos. Tudo, tudo de bom em 2012 (e seguintes!).
ResponderEliminarUm beijinho.
Gosto dos seus textos. Fazem-me lembrar fases muito felizes que, já não voltam mais.
ResponderEliminarBom Ano, querida. Viva devagarinho e guarde bem os momentos felizes. Um dia, daqui por muito tempo, eles serão a sua razão de vida.
Beijinhos
Maria