Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

domingo, 15 de janeiro de 2012

HIstória pedida 23 (por Anónimo, com título:) O menino de sua mãe

Alexandrina teve cinco filhos. Todos eles homens.
Foi tentando, tentando e desistiu ao quinto rapaz. Não teria a menina cheia de laçarotes e vestidinhos mimosos. Assim, o quinto rapaz andou de roupa folhada, aprumada, cabelinho penteadinho em cachos, fofos bonecos de peluche e outras mimosices que tal.
Claro que cresceu no colo da mãe e no escárnio dos irmãos e da vizinhança.
Contra todas as expectativas fez-se muito homem e muito macho, capaz de fazer frente a qualquer grupo de meliantes mal intencionados ou até rufias malandrões. Mantinha era aquele primor no vestir, no pentear e até uma certa dengosidade no falar. Perfeito, diria a mãe, em jeito de desculpa por tantos anos a fazer dele a filha-boneca que não chegara a ter.
O pai, depois de tantos anos de consentimento calado, cada vez que via o filho ajeitar com a ponta do dedo o caracolinho maroto para trás da orelha, dizia-lhe em surdina: «Tu amaricaste-me o miúdo Alexandrina, ai amaricaste, amaricaste!»
Mas depois sossegavam quando o viam andar pelo talho, negócio da familia, a pôr os empregados na ordem cada vez que se demoravam mais num cigarro ou deixavam uma freguesa por atender: «Oh Ramiro, tu vê lá se queres mas é uma chapadona nas ventas à portuguesa qu'é p'ra veres o qu'é bom p'ra tosse!».
E aí suspiravam de alívio, em uníssono, perante a voz grossa e possante e esqueciam o avental impecavelmente branco e a cheirar a àgua de colónia.
Todas as dúvidas se dissiparam no dia em que o rapaz se filiou na claque dos Super-Dragões, do FêCêPê do seu coração. Agora o pai mostrava a todos, orgulhoso, as fotografias nos jornais com o seu filho a encabeçar aquela malta viril e enraivecida:  «Isto é que é um homem com H maiúsculo, o meu rapaz!»
A mãe contorcia-se, mordia-se, rangia-se para não confessar que ainda no outro dia tinha visto o seu menino a sair pela porta dos fundos, de mão dada com o Marcelino da retrosaria, a quem todos chamam jocosamente de Madame Marcela.
É deixá-los estar, pensava. Amanhã é dia de jogo no Dragão e o meu menino lá vai comandar as suas tropas, de pelos de peito de fora e caracolinho bem penteado. E viva o futebol!

2 comentários:

  1. Amiga
    Quantos pais vivem nessa dúvida! Tenho dois filhos rapazes e uma rapariga e, um neto e uma neta.
    Sempre achei que, nunca me preocuparia muito com isso. Os filhos, são os dois homens, homens. E se não fossem? Deixavam de ser meus filhos? Teria vergonha? escondêlo-ia? Claro que não andaria a espalhar aos 4 ventos que um dos meus filhos era homossexual.Também não ficaria mais feliz. São meus filhos, amo-os, admiro-os como são. Penso, sinceramente, que aceitaria. No entanto, é fácil ser juiz em casa alheia.
    Beijinhos
    Maria

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  2. Gostei. Marcelinha e Ramirão, que belo casal.

    Boa prosa, bem engendrada, bem escrita. Parabéns.

    Beijinhos e uma bela semana!

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