"Vem sentar-te comigo Lídia, à beira rio?" "Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos / se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias / mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro / ouvindo correr o rio e vendo-o." Ricardo Reis
À beira do rio nacem
bioletas ao cumprido,
já me bieram dijer
que querias cajar comigo
As moças ainda se ouviam lá ao longe, enquanto os dois se entretinham a encontrar-se. Nos olhos, nos cheiros, na pele e nas mãos um do outro. Os dois muito morenos, ela bem bonitinha, rosadinha, carnudinha; ele bem robusto, rijo, forte como todo homem da terra deve ser.
Era dia de lavar a roupa nas lajes do ribeiro e as moças subiam as saias acima dos joelhos para não se encharcarem. Sabiam que os rapazes as espreitavam no cimo da ponte de pedra - romana, diz o Ti Amilcar coçando a longa barba - e nestes dias os cabelos apareciam mais escovados e os vestidos mais cavados.
Mas eles os dois conseguiram perder-se dos outros, tal como ele pedira no papel sujo que lhe entregara na fila para a comunhão no domingo. Ouviam as moças a cantar, a roupa a ser torcida e estendida e até lhes chegava o cheiro a sabão, mas estavam num canto, num momento só seu.
"Que estás a fazer?", perguntou-lhe sentindo o olhar dele desaparecido para dentro da sua pele.
"Estou a conhecer os cantos à casa".
Ela sorriu porque isso lhe pareceu coisa solene, séria, coisa que parecia antever um futuro bem prolongado.
Os pés molhados pelo ribeiro, tocavam-se dentro de água, a mão na mão, o sorriso de um no rosto do outro.
O suspiro do prazer mais puro e sentido.
"Casa comigo Lídia"
"Não estás a falar a sério Juca. Não se brinca com essas coisas."
"Não estou a brincar. Quero-te para mim. Quero poder gritar a todos, lá do alto daquela ponte tão velha, que és minha, a tua voz que canta tão doce é minha, os teus olhos escuros são meus, as tuas ancas redondas são para mim, as tuas pernas frias, molhadas quem as beija sou eu".
Inclinou-se e beijou-lhe a ponta do nariz rosado.
E ela disse Sim.
Bem bonito.
ResponderEliminarFaz-me lembrar as lavadeiras de Ponte de Lima ou as festas da aldeia.
Esta história será coisa passada lá para trás no tempo? Ou coisa passada no interior do país?
Seja como for, gostei da história. Obrigada.
Quantas vezes se teria vivido esta história? Quantos a contaram e escreveram?
ResponderEliminarAparentemente tão simples. Tão bom vê-la de roupa nova vestida!
Beijinho
Maria