Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Criador

E finalmente pôs-se assim, dobrado, soçobrado, encolhido, tolhido em si, descoberto e desnudo, só, abandonado.

Deixou, na sombra colada aos pés, os restos do momento que passara, da vida que se perdera, do dia último dos dias, da triste vontade de perder. Desmaiou-se assim em si mesmo, suspirou o último fôlego, o último adeus.

Parou o tempo no relógio e lá fora, criou um tempo-espaço só seu. Deitado sobre si, do seu corpo, do seu nú, dos seus braços recolhidos ao peito. O cabelo colado à testa, molhado, suado, orvalhado, atirado num gemido, quebrado e desalinhado.

Lá fora todos os sons, toda as vidas, todos os pedaços de si. Lá fora para lá do muro, do seu muro cinzento e frio, passam os outros mundos, os outros eus de que agora não quer nem perceber o vulto, muito menos o olhar.

Precisa arrastar-se assim, esgotado, vazio, oco no centro, para se poder renovar. Ganhar nova pele, novas asas, novos mundos inventados, novos sentidos e emoções.

Talvez seja até uma lágrima que brilha na penumbra, talvez o último resto de si naquela noite.

Amanhã erguer-se-à de novo, sempre uma e outra vez, num novo Eu, um novo corpo, uma nova luz, num sentir que não conhece fim. E assim seguirá vibrando enebriado até ao encerrar do próximo espectáculo, até ao som dos aplausos se gastar, até retirar a pele que nessa noite se tornou gasta e deixar-se ir colado ao fundo de um quarto qualquer. Para na manhã seguinte começar de novo a Criar.

3 comentários:

  1. minha querida

    um retrato perfeito da solidão! vestido de uma pele que não sua consegue sentir-se realizado, renovado, mas o vazio retorna ao som dos últimos aplausos. quantas e quantas almas não sofrerão a cada instante deste esvaziamento, perto de nós, mesmo sentindo-se, numa outra esfera, um criador?

    história excelente, histórias de nós.

    bj

    olinda

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  2. Gostei mais uma vez, desta história de nós. A cada momento, há alguém a sofrer assim. Morre-se num momento, para logo a seguir voltar à vida. É a vida que todos vivemos, amiga. Muito bem contada.
    Beijinho
    Maria

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