Veste a camisa verde de que tanto gosto. Sim, essa. Lembras-te que era a que tinhas vestida daquela última vez que vimos os fogos lá no alto? Sim, os fogos lá na festa da aldeia, que giravam sobre a nossa cabeça e nos rebentavam nos ouvidos. Sim, sei que não rebentam nos ouvidos, mas era o que parecia, que estavam mesmo dentro de mim, o coração apressava-se e as minhas mãos à volta de ti.
Sim, sei que é fogo de artifício que se diz - que agora dizes-, mas sabes que cresci a ouvir falar do mês de Agosto dos fogos, das festas, do regresso dos que se foram para França, das noites sem fim a bailar com a concertina.
Não te lembras tu? Tenho saudades desses tempos, de quem nós eramos, de como eu era sempre a primeira que tiravas para dançar e as outras a morderem-se, porque era a mim que querias. Acabávamos a noite, eu toda embrulhada nessa camisa verde, tu de camiseta a tentares acertar com as pedras redondas no branco da lua que enfeitava o rio.
Foi antes de virmos aqui para a cidade, onde o mundo corre mais rápido, a vida desaparece-nos entre os ponteiros do relógio e perdemo-nos de nós nesta casa onde nunca deu para ver os fogos no Verão.
A ver se é desta que voltamos à terra em Agosto. Já sei, já sei que nunca queres deixar a loja, que não te apetece voltar àquela gente, nem às lembranças da tua amostra de vida por lá, que cresceste no meio da podridão e das sapatadas do teu pai, mas não te lembras? Nao te lembras de como esqueciamos tudo nas noites de festa, os fogos lá no alto, a música dentro de nós, eu a apertar-me contra ti a pedir à primeira estrela a eternidade para aquele momento?
Ali eramos só nós e o cheiro a eucalipto, o sorriso vinha cá de dentro bem fundo e o tempo durava todos os segundos que queríamos. Anda cá, deixa-me ao menos apertar-te, aposto que a tua camisa verde ainda cheira a eucalipto e a Verão.
Todas temos uma "camisa verde" que cheira a qualquer coisa que, nos lembra fogos, festas, noites especiais. Levam-nos para tempos idos, às vezes difíceis mas, felizes.
ResponderEliminarA história é linda, amiga.
Eu tenho uma camisa preta, longa, com um leve aroma a "L'air du temps" que me lembra... tantas coisas!
Parabéns pela história
Beijo
Maria
Ainda cá voltei. Guardo numa gaveta, entre as coisas de minha mãe, uma camisa de seda branca com rendas muito delicadas. Foi a camisa de noite que ela usou na noite do casamento. Todos os anos, no dia 15 de Agosto, aniversário de casamento, a vestia. Nunca me atrevi a perguntar porquê. Ela sabia, eu calculava. Todas as vezes que a vejo, desdobro-a e volto a guardá-la, depois de a cheirar e, ou é imaginação minha ou, é verdade, tem o perfume dela.
ResponderEliminarMulheres! todas tão diferentes, todas tão iguais.
+ 1 beijo
Maria
Lindo, o Tempo de Nós!
ResponderEliminarSinto aquele ambiente de Verão, os fogos de artifícios e as festas nas noites quentes.
Histórias de Nós, posso pedir-lhe para me escrever uma história sobre um tema que anda há uns dias na minha cabeça: 'Perto de Casa'? Levá-la-ia depois lá para o Xaile...
Beijos
Olinda
Querida Maria, sempre tão doces os seus comentários! E a partilhar um bocadinho de si, dos seus dias. É uma ternura o que conta da camisa da sua mãe, do cheiro que ainda lhe cheira a ela. Não ha nada como o colo de mãe...
ResponderEliminarMas confesso que me deixou curiosa com a sua camisa preta..será que não vem daí uma boa história?
Obrigada e bjs
Queria Olinda,tão bom sempre tê-la por cá!A
ResponderEliminarAdorei o seu pedido do «Perto de Casa»,já está a fervilhar..... a ver se consigo corresponder às suas expectativas!
BJS e obrigada
Obrigada :)
ResponderEliminarBj
Olinda
Se essa camisa preta falasse...Contava coisas que só ela viu e eu senti. Deixo-lhe o desafio.
ResponderEliminarBeijo
Maria
ai, ai já fazemos fila.. :))
ResponderEliminarO seu tema é belíssimo, Maria.
Bjs às duas.
Olinmda
Minhas queridas amigas! A da Olinda já está. Começa agora a da Maria a fermentar!
ResponderEliminarObrigada pelos vossos desafios, verdadeiros incentivos, que tanto gozo me dão.
Olinda, gosto muito que haja fila...há senhas para todos!! ;)
BJS