É no silêncio da casa que me ponho a pensar, a imaginar, a lembrar. Beijo os meus amores, um por um e sento-me no meu canto, no meu escuro, no meu nada, de copo na mão e a cabeça a voar. É o meu momento. Já não quero saber das horas, nem do que me espera na manhã. É quando lembro o cheiro dos amores perdidos e é quando invento o que ainda há-de vir.
É neste momento que, muitas vezes, vou até à comoda que um dia foi da minha avó. Vou ao encontro da minha camisa preta.
Embrulhei a nossa história naquela camisa. Cheira a liberdade e a amor, aos nossos corpos despidos e a todos os ais supirados. Cheira a um perfume que não é só meu.
Cheira aos tempos de desprendura e de palavras eternas. Cheira aos meus cabelos ao vento, colada a ti nos domingos de Praia Grande. Cheira ao que fomos juntos e ao que sonhávamos ser.
Cheira ao dia em que te foste em busca de uma revolução para o nosso país, para o nosso mundo. Cheira aos meus dedos na tua pele enquanto me dizias Adeus.
Cheira às memórias de ti e do eu que já fui, em tempos, longe deste tempo e desta vida.
Cheira a sonho de criança. Cheira a rituais de mulher.
Cheira a tudo o que fui e ao que acabei por não ser.
Cheira a crescer e a renascer em todos os meus silêncios. Cheira a história de mim.
Cheira aos tempos de desprendura e de palavras eternas. Cheira aos meus cabelos ao vento, colada a ti nos domingos de Praia Grande. Cheira ao que fomos juntos e ao que sonhávamos ser.
Cheira ao dia em que te foste em busca de uma revolução para o nosso país, para o nosso mundo. Cheira aos meus dedos na tua pele enquanto me dizias Adeus.
Cheira às memórias de ti e do eu que já fui, em tempos, longe deste tempo e desta vida.
Cheira a sonho de criança. Cheira a rituais de mulher.
Cheira a tudo o que fui e ao que acabei por não ser.
Cheira a crescer e a renascer em todos os meus silêncios. Cheira a história de mim.
Esta camisa tem nos fios histórias que só eu sei e vai ser para sempre assim.
Uma camisa com cheiros de uma vida inteira.Cheiros que são memórias...'Cheira a história de mim'.
ResponderEliminarAdorei!
Beijo
Olinda
Até parece que lhe contei toda a história. Tão semelhante, com tantos pontos em comum!
ResponderEliminarFicou linda a história da minha camisa preta! A sua sensibilidade assusta-me. Vai dar-lhe horas de imensa felicidade e outras muito tristes. Com 67 anos, tenho experiência disso.
Quantas coisas me lembrou a história!
Um dia, talvez lhe conte e verá que parecidas são.
Obrigada pelo romantismo e delicadeza com que tratou a minha camisa. Até no sítio onde se encontra acertou... ao lado. Não é uma cómoda mas, um contador sec.XVII que era de meus avós.
E mais não digo, por hoje.
Um beijo grande, minha querida.
Maria
Uma história com uma força feminina imensa, torrencial. Uma história de tantas de nós, contada como muito poucas sabem. Adorei.
ResponderEliminarQuerida Olinda, sempre tão generosos os seus comentários e as suas visitas! Obrigada
ResponderEliminarBJS
Leonor, gosto muito quando aparece por cá. O seu elogio, vindo de si que escreve de uma forma sublime, deixa-me de sorriso bem aberto. Muito obrigada!
ResponderEliminarQuerido MAria, suspirei de alívio com o seu comentário. Estava tão preocupada! Ao contrario do que é costume, andei dias e dias à volta da sua história, precisamente por ser sua, sempre tão querida, e por perceber que tinha de facto uma grande história por trás. Acabei por resolver assim, uma história que não é história. É partilha.
ResponderEliminarMuito obrigada e gostava mesmo mesmo mesmo que um dia me contasse afinal o que está guardado nos fios da sua camisa!
beijos
Historinhas,
ResponderEliminarNo outro dia deixei-lhe no UJM um desafio. Para o caso de não o ter lido ou para o ter mais à mão, transcrevo aqui o que lá escrevi:
'Conhece o poema de Ricardo Reis, 'Vem sentar-te comigo Lídia, à beira rio'?
Pois bem:
Isolemos apenas este bocadinho:
"Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos / se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias / mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro / ouvindo correr o rio e vendo-o."
Venha então daí uma história inspirada nestas palavras de Fernando Pessoa, digo, Ricardo Reis.'
------
Se não estiver para coisas com laivos de romantismo, então imagine outra que contenha esta frase:
"Atendi o telefone e era uma voz masculina, gutural, num francês irrepreensível"
Pode ser?