Aqui chove muito. Chove muito, muito, muito. Chove tanto que até nos esquecemos da côr do sol. E da secura do seu calor.
Chove tanto que o chão está sempre numa lama amarelada, o cabelo num emaranhado, a roupa mole de tanta humidade. A pele sempre branca e os lençóis a cheirarem a molhado.
Os animais também estão diferentes, sempre escuros e ensopados. As crianças correm atrás dos cães de pêlo colado, fogem dos cavalos enlameados.
É uma chuva que só vendo, porque miudinha, miudinha, quase que nem se vê e aquelas nuvens pesadas cinzentas não nos deixam perceber o tudo que aí vem. Provavelmente mais chuva para os nossos dias, o sol mais longe, um cheiro a bafio que se entranha no fundo de tudo.
E nós lá vamos levando a nossa vidinha assim, dentro de nós, vivendo pouco, lembrando muito dos dias de sol, do calor na cara e das crianças a chapinharem no tanque.
Aqui chove muito, muito, muito, mas em tempos não era assim.
Sabemos levar isto, sabemos viver com o novo tom pardo das coisas e até conseguimos rir levezinho de tudo o que mudou.
À noite, antes de deitar, olhamos para o céu sempre carregado, na esperança de uma pequenina nesga, um prenúncio de um dia melhor. Ainda sorrimos o sorriso mais triste, quando nem uma estrela se adivinha.
Com a cabeça na almofada lembramos os dias de puro sol que já tivemos e adormecemos na certeza que o melhor ainda há de vir.
Chove muito, troveja, o vento sopra, a tristeza instala-se. Não gosto deste tempo. Fico gelada até à alma.
ResponderEliminarDepois, penso naqueles que não têm um tecto que os cubra, um cobertor que os tape, uma sopa que os alimente e aqueça. Sinto-me tão egoísta!
Aqui, até o canito, tem um cobertor, tem carinho, tem comida.
Deito a cabeça na almofada mas, não durmo. Perto de mim, estão dois velhos sem abrigo, com cartões por cima. Essa imagem faz fugir o sono.
Beijinho
Maria
Gostei muito desta alegoria tão pertinente.
ResponderEliminarCheer up, girl!
ResponderEliminarUm dia destes o tempo vai melhorar, novos tempos vão chegar!
Bjs.
É isso mesmo, Histórias de nós, um tempo cinzento que quer instalar-se em nós e alagar-nos os ossos... Teremos é de sacudi-lo e convocar em nós a luz do Sol e dias plenos de arco-íris.
ResponderEliminarBeijinhos
Olinda