Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

domingo, 11 de dezembro de 2011

Breve

O piano pousado em pleno meio da sala. Ele sentado ao piano. Ela em cima dele. Do piano, claro está.

As horas passam devagar, com mansidão, enquanto ele corre as teclas pesadas e ela se estende na madeira preta. Perdem-se do que está lá fora e do mundo que os procura com insistência. Mas ali, assim os dois dentro da música e dentro um do outro, não querem mais do que respirar o tempo dos anos todos em que não se tocaram, não se viveram. Em que se esperavam.

Ela fecha os olhos e desenha no ar os quadros de cores fortes com que irá encher as noites em que ele estará fora a actuar. Telas e telas que se empilham pelo chão, cheias das linhas vivas com que agora enche a sua vida. Ali está ao lado dele, no centro dos seus dias, finalmente, depois de tantas vidas que correram antes de se unirem num só.

Os cabelos dele já são brancos, os dela ainda mostram sombras da ruivice que o conquistou no primeiro olhar.

Tiveram que viver outros mundos, um sempre lembrando-se do outro, ele nos palcos, nas horas de viagem, no enlace de cada mulher; ela no colo do seu homem, na correria dos dias no escritório, nas telas sombrias que pintava antes de ir dormir.

Até que um dia ela se cansou da espera, do tempo contado, correu para ele oito anos depois do primeiro olhar e disse-lhe com voz meiga: chegou o tempo de nós. Ele sorriu e nunca mais a largou.

Não podiam estar mais cheios e perfeitamente completos. Não custou a espera, não foi preciso pedi-la, nem tão pouco consenti-la. Foi assim e pronto. Foi assim que aconteceu o amor maior que agora espreito da porta do meu quarto, enquanto os meus pais se vêem como se fosse ainda a primeira vez que cruzam o olhar.



Nota: o título desta história só será verdadeiramente compreendido por aqueles que tenham algumas noções de música/solfejo..desculpem, mas teve mesmo que ser assim..

3 comentários:

  1. Verdadeira ou imaginada, a história é linda.
    O Amor esperado, sofrido, é o verdadeiro amor. Aquele que resiste a tudo, até aos anos, à idade.
    A minha mãe esperou 13 anos, pela consumação de um amor assim. Amavam-se doidamente, aqueles dois.
    Eu fui rápida. Ao fim de 5 meses estava casada e grávida. 45 anos de um amor apaixonado e louco que, com o tempo se transformou em amor doce, terno, cúmplice. Amores felizes! Amores de uma vida.
    Beijinho
    Maria

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  2. Querida Maria, muito obrigada! Esta história tem um «fundamentozinho» de verdade, mas é essencialmente imaginada. Não é de todo a história dos meus pais. Adorei as suas histórias...e Maria isso é que foi paixão!!! Em 5 meses?! Record absoluto! É uma mulher de paixões não é? De intensidades..?
    Bjs
    M.

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  3. Querida amiga:
    Sou de paixões, sim. Desde que me lembro, vivo tudo com paixão. Todos os amores, mesmo aqueles que duraram pouco, eram apaixonados. Um dia, apareceu um, que me prendeu para toda a vida. Já lá vão 45 anos e dura...dura... dura.
    Sou apaixonada, ciumenta, um pouco possessiva. Nunca odeio mas, desprezo. Como vê, sou um "poço de qualidades".
    Beijinho
    Maria

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