Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

domingo, 13 de novembro de 2011

História pedida 18 (por Maria, «a minha camisa preta»): No Escuro

É no silêncio da casa que me ponho a pensar, a imaginar, a lembrar. Beijo os meus amores, um por um e sento-me no meu canto, no meu escuro, no meu nada, de copo na mão e a cabeça a voar. É o meu momento. Já não quero saber das horas, nem do que me espera na manhã. É quando lembro o cheiro dos amores perdidos e é quando invento o que ainda há-de vir.

É neste momento que, muitas vezes, vou até à comoda que um dia foi da minha avó. Vou ao encontro da minha camisa preta.

Embrulhei a nossa história naquela camisa. Cheira a liberdade e a amor, aos nossos corpos despidos e a todos os ais supirados. Cheira a um perfume que não é só meu.
Cheira aos tempos de desprendura e de palavras eternas. Cheira aos meus cabelos ao vento, colada a ti nos domingos de Praia Grande. Cheira ao que fomos juntos e ao que sonhávamos ser.
Cheira ao dia em que te foste em busca de uma revolução para o nosso país, para o nosso mundo. Cheira aos meus dedos na tua pele enquanto me dizias Adeus.
Cheira às memórias de ti e do eu que já fui, em tempos, longe deste tempo e desta vida.
Cheira a sonho de criança. Cheira a rituais de mulher.
Cheira a tudo o que fui e ao que acabei por não ser.
Cheira a crescer e a renascer em todos os meus silêncios. Cheira a história de mim.

Esta camisa tem nos fios histórias que só eu sei e vai ser para sempre assim.

7 comentários:

  1. Uma camisa com cheiros de uma vida inteira.Cheiros que são memórias...'Cheira a história de mim'.

    Adorei!

    Beijo

    Olinda

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  2. Até parece que lhe contei toda a história. Tão semelhante, com tantos pontos em comum!
    Ficou linda a história da minha camisa preta! A sua sensibilidade assusta-me. Vai dar-lhe horas de imensa felicidade e outras muito tristes. Com 67 anos, tenho experiência disso.
    Quantas coisas me lembrou a história!
    Um dia, talvez lhe conte e verá que parecidas são.
    Obrigada pelo romantismo e delicadeza com que tratou a minha camisa. Até no sítio onde se encontra acertou... ao lado. Não é uma cómoda mas, um contador sec.XVII que era de meus avós.
    E mais não digo, por hoje.
    Um beijo grande, minha querida.
    Maria

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  3. Uma história com uma força feminina imensa, torrencial. Uma história de tantas de nós, contada como muito poucas sabem. Adorei.

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  4. Querida Olinda, sempre tão generosos os seus comentários e as suas visitas! Obrigada
    BJS

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  5. Leonor, gosto muito quando aparece por cá. O seu elogio, vindo de si que escreve de uma forma sublime, deixa-me de sorriso bem aberto. Muito obrigada!

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  6. Querido MAria, suspirei de alívio com o seu comentário. Estava tão preocupada! Ao contrario do que é costume, andei dias e dias à volta da sua história, precisamente por ser sua, sempre tão querida, e por perceber que tinha de facto uma grande história por trás. Acabei por resolver assim, uma história que não é história. É partilha.
    Muito obrigada e gostava mesmo mesmo mesmo que um dia me contasse afinal o que está guardado nos fios da sua camisa!
    beijos

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  7. Historinhas,


    No outro dia deixei-lhe no UJM um desafio. Para o caso de não o ter lido ou para o ter mais à mão, transcrevo aqui o que lá escrevi:

    'Conhece o poema de Ricardo Reis, 'Vem sentar-te comigo Lídia, à beira rio'?

    Pois bem:

    Isolemos apenas este bocadinho:

    "Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos / se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias / mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro / ouvindo correr o rio e vendo-o."

    Venha então daí uma história inspirada nestas palavras de Fernando Pessoa, digo, Ricardo Reis.'


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    Se não estiver para coisas com laivos de romantismo, então imagine outra que contenha esta frase:

    "Atendi o telefone e era uma voz masculina, gutural, num francês irrepreensível"


    Pode ser?

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