Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Conversa de comadres

«Anda lá, deixa-te de coisas.»
«De coisas?»
«Sim, deixa-te de pieguices, mariquices, comichosices e outras "ices" que tal.»
«Mas porquê, se é assim que eu sou?»
«Porque não te fica bem, faz-te velha, seca, sisuda. Consumida. Olha lá que já nem tens barriga... e a barriga que é uma coisa que enfeita tanto!»
«Mas isso é porque perdi a fome. Perdi a vontade. Já não tenho vontade de mais nada desde que ele se foi.»
«E então? Foi-se, já se sabe e já estava mais que visto. Só tu é que não querias ver, mulher. Há que tempos que ele já estava mais para lá do que para cá.»
«Para o lado da outra, queres tu dizer.»
«Pois, isso mesmo, vês como tu sabes? Vá, anda, arranja-te, enfia um camiseiro daqueles teus todos afiladinhos, de botãozinho dourado rebrilhante e a golinha certinha, que te fica bem e até disfarça essa magreza toda. Credo mulher, que pareces um cão com fome.»
«Cadela, neste caso»
«Pois, está claro. Mas cadela é a outra que te levou o homem para parte incerta, ao fim destes anos todos. Ai o que tu aturaste mulher, só Deus sabe. E eu também sei, que isto ouve-se tudo por estas paredes fininhas. E tu tudo ouvias e calavas, porque te lembravas do que prometeste há bem mais de 30 anos lá à frente do Senhor Prior, que Deus o tenha, só porque era suposto, só porque devias e aquele bruto que te falava mal de dia e de noite, a sopa que estava sempre sem sal, as camisas mal passadas, raios partam o raio do homem que nunca estava satisfeito e tu toda "sim,querido", "está bem meu amor" e ele sempre pronto para te amarrotar, torcer e tu toda doçuras e meiguices porque era o teu homem e nós até fomos educadas assim. E agora, ao fim destes anos todos, troca-te por uma dessas serigaitas brasileiras que desaguaram aqui e por todo o lado e agora que estás velha e seca, agora que ninguém te vai querer, credo mulher é que nem uma barriguinha já tens para amostra, agora vais tu ficar sozinha nesta casa grande demais para ti, silenciosa demais e tu aqui sem ninguém para te encher os dias a queixar-se do raio da sopa nem das camisas.
Olha, sabes que mais, vamos mas é ficar aqui sentadas um bocadinho, que agora de repente fiquei sem vontade de nada. Se calhar foi a feijoada do almoço que me caiu mal».

3 comentários:

  1. Quantas histórias destas, ou parecidas, ouvi nas minhas voltas diárias! Nunca as mulheres se irão deixar de preocupar, com o "parece mal", "é o meu marido, tenho que desculpar", "os homens são todos iguais" e, outras frases parvas? Felizmente para mim, nunca as disse e, mesmo com quase 67 anos, creio que, nunca as diria. Tive sorte, amiga. Mas, como dizia meu pai, sou livre, só me prendo ao que quero e quando quero.
    Nunca me deixei escravizar por ninguém. A dona da minha vida, sou eu. Um dia, quando esta amizade nascente, for maior, conto-lhe mais coisas.
    Beijinho, amiga. Obrigada por todas as mulheres que, chegam ao que tão bem descreve.
    Maria

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  2. Olá, menina, boa noite!

    Que belo diálogo este, penso que já o ouvi mil vezes, nos bairros, nas esquinas, nas portas. As vizinhas, as comadres, as acomodadas, as vítimas, as auto-vitimizadas.

    Também gostei de ler o comentário da Maria. Ainda há mulheres de força!

    Um beijinho.

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  3. Queridas Maria e UJM - que é como quem diz, queridas amigas - muito obrigada pelas vossas palavras, mais uma vez!

    Amiga Maria, gostei de saber da sua força, do seu espírito livre. Só assim se consegue ser realmente feliz, não é?

    Obrigada e bjs

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