Hoje sou eu a escrever. Eu, mas mesmo Eu. Não que em todas as histórias não exista sempre um bocadinho de Eu. Mas esta vou ser eu do princípio ao fim. Esta não é uma história de nós. Esta é uma história minha.
Começo pelo fim. A Inês entrou ontem em coma, no decorrer de uma cirurgia que correu mal. Muito mal.
Começo pelo fim. A Inês entrou ontem em coma, no decorrer de uma cirurgia que correu mal. Muito mal.
Teve a primeira filha há 5 meses. Tem um feitio que não tem nada de fácil. Sempre gostou de dar espectáculo, da ribalta, de dar que falar. Tem uma escola de dança porque o que mais gosta de fazer é dançar. Principalmente com o seu amor, pai da sua filha, parceiro em tudo. Não o conheço. Mas a ela, sim.
Depois de nos termos cruzado em crianças no mesmo colégio, reencontrámo-nos adolescentes no liceu. Ambas acabadinhas de chegar e sem conhecer ninguém. E assim nos tornámos melhores amigas. Com o tempo formámos um grupo de cinco raparigas inseparáveis. Cada uma mais diferente da outra. Nunca percebi como aconteceu, nem como durou três anos. Os anos em que nos tornámos mulheres. Baptizámo-nos com pseudónimos bem característicos da piroseira da adolescência. E com fundamentos que na altura nos pareciam bem racionais. Hoje parecem uma grande tolice. A Flor, a nossa doce e sensivel, a Estrela que ora brilhava radiosa, ora se entristecia e apagava, a Inês a Lua, porque nunca lhe conheciamos bem todas as faces e eu a Sol. A que falta é a que nos nomeou e nunca conseguimos arranjar outro nome que não AnaSus. Pelo menos que eu me lembre.
Passado um par de anos, eu e a Inês antagonizámo-nos. E isto é suavizar a coisa. Ela lembrou-se de meter-se entre mim e o meu apaixonado (mais tarde namorado) e eu não perdoei. Depois de um sermão de horas em que ela nem abriu a boca, nunca mais lhe dirigi palavra. E nestas coisas eu era definitiva.
Não fosse esta modernice do FaceBook e passaria bem sem saber mais dela. O que não quer dizer q não me lembrasse da sua existência. Mas não me fazia falta. Depois, com o advento da minha entrada no FB, lá nos (re)descobrimos e através de fotografias e comentários mútuos, até parecia que nada acontecera. Old friends. Fui sabendo da gravidez, da enorme felicidade com a sua 'princesa' e vendo as magníficas fotografias dela a dancar - totalmente entregue e apaixonada -, das suas aventuras em férias e daquela força toda que há dentro dela, que bem se vê em algumas imagens que me parecem descabidas e despropositadas por estarem tão longe da minha realidade. Mas ultimamente tenho-me descoberto a 'julgar' muito menos. Se calhar é isto crescer.
Não consigo deixar de pensar na Inês. Em coma. Apagada, fechada. Longe. E a filha a precisar tanto dela. E estou em ânsias pelo dia em que vou chegar ao FB e encontro no seu mural : Back from the dead, seguido de muitos smiles. Ou uma frase assim, mesmo à Ines. Uma tirada carregada de show, como ela. E que me faça respirar de alívio e pensar se não seria boa ideia voltarmos todas aos dias em que não nos largávamos as cinco e dávamos por nós felizes em cima de um muro, a cantar para quem quisesse ouvir "You are my sunshine", só porque sim.
Só porque a Inês voltou e está por ali à procura de um palco qualquer.
Olá!
ResponderEliminarAtravés do excelente blog, Um jeito Manso, que acompanho há muito, descobri o seu e tenho lido todas as "Histórias de Nós" que escreveu. Tenho gostado imenso e, acho mesmo, que um dia o seu destino de ser escritora se cumprirá.
Nunca comentei, mas hoje não posso deixar de o fazer, porque esta é uma história de si...
Compreendo tudo o que diz, tudo o que sente. Percebi, ao longo destes anos, que as amizades e cumplicidades de miúda, têm o efeito mágico de não permitirem o 'delete', mesmo que percebamos, à medida que crescemos, que pouco de essencial nos ata. Há um 'stand-by' vitalício, de que não conseguimos sair, nem que a vida, a profissão ou apenas a decisão, nos afaste.
E, por isso, está magoada com a doença da Inês. E, por isso, está triste. Deixar de julgar os outros, sim, é crescer, para quem cresce de bem com a vida. É... também percebi com os anos, que o crescimento para muitos se traduz num ressabiamento e numa intolerância insuportáveis.
Espero que Inês melhore: pela bébé,por ela própria, por si... e por nós, que queremos que esta sua história, tenha definitivamente um happy-end.
Fique bem!
Cara Tita,
ResponderEliminarmuito e muito obrigada pelo seu comentário. Gostei imenso! Primeiro obrigada pelas suas palavras encorajadoras em relação
à minha escrita. E depois porque realmente compreendeu exactamente o que sinto. Essa expressão da «amizade para sempre em stabd-by» é perfeita! Porque é exactamente assim. Ainda mais quando estou a falar de uma amizade naqueles anos em que nos estamos a descobrir e a começar a traçar o nosso caminho enquanto pessoas. Fica para sempre, apesar dos tantos anos que já passaram.
Infelizmente as notícias hoje não são as melhores. Mas quero acreditar que aquela força toda que sempre houve dentro dela, vai permitir que tudo volte a ficar bem.E a ter um PERFECT happy-end.
Muito obrigada e seja muito bem vinda!
M.
PS - Quando lhe apetecer deixe-me aqui um novo desafio para uma história pedida. Seria um enorme prazer!
Histórias de Nós
ResponderEliminarNas histórias que conta deixa sempre muito de si, a sua capacidade de escrita, a sua fluência, a sua imaginação...Hoje deu-nos muito mais porque foi buscar algo da sua vivência, de uma época em que tudo assume uma grande importância e, mesmo que as amizades sofram contratempos,quando regressam vêm falar-nos de uma época inesquecível.
Desejo que a sua amiga recupere, por ela, pelo bebé e também por si e que voltem a ter momentos felizes a recordarem as passagens de uma vida em que tudo tem um sabor muito especial.
Beijo
Olinda
É com enorme tristeza que leio esta notícia, este desabafo. Tomara que a Inês volte para 'dar espectáculo' pois tem, certamente, muitas pessoas à espera dela.
ResponderEliminarQuerida amiga
ResponderEliminarTenha esperança. A sua Inês ainda está viva. Sei o que sente. Na minha vida, também tive uma Inês, aliás, Margarida, aliás, Margot que, foi de longe a minha melhor amiga. Era minha prima, minha amiga e confidente. Vivíamos num mundo aparte, mesmo depois de eu casar e ter filhos, mesmo depois de ela ter uma filha. Um dia, partiu. Foi das maiores dores que senti.
Há diferenças: Você, diz-se intolerante, entre nós nunca houve intolerâncias, o que não quer dizer que o não fossemos. A intolerância é própria da juventude. A sua Inês está viva e vai viver muito ainda, espero. E você, amiga, a pouco e pouco, vai tornar-se cada vez mais tolerante, com os outros e consigo. Faz parte da maturidade, faz parte da vida que, nos ensina muita coisa que, quando novas, não aceitamos.
Volto a dizer: Esperança, amiga. Essa, não a deve perder nunca.
Compreendo a sua dor e, acompanho-a.
Fico à espera de notícias boas da Inês.
Um abraço muito grande, da que já a considera amiga
Maria