Á porta da minha escola havias tu. Chegavas, sentavas-te no lancil, puxavas um cigarro e ali ficavas. Parado. Quieto. Mudo.
O cabelo preto todo puxado para trás num arrepio gelatinoso. As mangas a roçarem os bicos dos teus joelhos que espreitavam nas calças coçadas. Um assobio entre as mãos para as meninas que passavam. E as tontas que apressavam o passo com medo do que se poderia seguir. E tu na tua.
O tempo passava e não arredavas pé. Apareciam os das motas, os dos carros, os do liceu de baixo e até alguns pais que insistiam em ir buscar os filhos envergonhados. E tu ali, de cigarro entre os dentes, de assobio entre as mãos.
Nós raparigas não sabiamos bem o que pensar de ti. Inventávamos-te histórias dramáticas, romances novelescos, crimes impunes.
Mas tu esperavas a Professora Lúcia, que, sempre que passava, baixava o olhar para não te encontrar. Apaixonaste-te pelos seus grandes olhos dourados e pernas intermináveis. Acabaras o liceu no ano anterior, depois de vários anos em repetição - quer fosse por não teres que fazer na vida, quer fosse para demorares-te na contemplação da Professora.
Isto contaste-me tu naquele primeiro dia em que ganhei coragem, sentei-me apertando a saia entre os joelhos e te fiz todas as perguntas. E em que surpreendentemente me respondeste. Não sou mais que uma miúda ao teu lado, mas a tua mão agarrou a minha quando te procurei entre os cigarros.
Ás vezes na correria dos nossos corpos nus na cama da minha mãe, oiço-te a chamares-me Lucia. Mas eu não me importo. Acho que um dia gostava de ser professora também.
Amores de juventude, tão breves, tão efémeros e, que deixam marcas tão profundas!
ResponderEliminarBonita, esta história de nós que, vai lembrar histórias vividas ou, sonhadas.
Beijinho, amiga
Maria
Olá, Histórias de Nós
ResponderEliminarUma história com que quase cada uma de nós nos identificamos. Tempos intensos que a nossa memória recorda com saudades.
Hei-de voltar para ler as histórias que, entretanto, escreveu desde a minha ultima vinda aqui...
Tenho tido problemas técnicos e de acesso à Net.
Beijos
Olinda
É verdade, na adolescência tudo é tão intenso que marca para sempre.
ResponderEliminarCara Olinda, já vinha sentindo a sua falta! Volte pois, para ver o que se tem andado por aqui a passar, do bom e do menos bom...
BJOS!