Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

História pedida 10 (por blog A Minha Travessa do Ferreira) : O Amolador de Facas e Tesouras

Era uma vez uma Maria de Fátima, uma Fátinha qualquer, uma Fátinha como as outras, que se debruçava à janela a ver os que passavam e se passeavam pelas ruas de Belém.

Olhava e rebolava, suspirava e arfava e voltava a entrar para o seu Zé, um Zé qualquer, um Zé como os outros. Voltava a sentar-se junto a ele, os dois colados, talvez dessem as mãos, talvez suspirassem em uníssono, talvez se deixassem assim ficar até o dia acabar.

Mas esta Fátinha tinha o coração num sobressalto, nem mesmo a respiração pesada do seu Zé a conseguia acalmar, os seus olhos não paravam de tilintar, os dedos de saltitar, a boca de abrir e fechar. O coração quente, as mãos suadas, mas a pele gelada.

Esta Fátinha não se cansava de pensar e repensar e moer e remoer e dar voltas e meias voltas, os neurónios fervendo, os cabelos caindo pelos ombros, o cheiro a suor do corpo colado ao do seu Zé, e que nunca mais chegavam as malditas 5 horas, 5 menos um quarto e que vai de volta ele podia passar mais cedo e vai na volta e podia adiantar-se, apressar o passo, chegar antes da hora de sempre, passar uma vez mais debaixo da sua janela, piscar o olho para o alto do seu 2º andar e vai que ela não lá estava, vai que ela estava colada ao lado do seu Zé e não via?

Por isso mais uma vez se levantava, mais uma vez corria para a janela, corria sem correr, para o seu Zé não perceber, para não ter que lhe voltar a responder, fugindo dos seus olhos mortiços, que não era nada, era o calor, - eram mas é os calores! -, que vinha arejar, apanhar ar e mais uma vez ficava na janela, olhava lá para o alto de onde o outro haveria de aparecer, na ânsia de o ver chegar, de o ver passar vagaroso debaixo da sua janela e atirar uma piscadela de olho, em jeito de piropo, para o ar.

E nisto andava Fátinha, senta, levanta, anda, rodopia, espreita, suspira até que chegam as 5 menos 5 e aí decide postar-se à sua janela sem arredar pé, o seu Zé pede-lhe uma cerveja, ela diz, já vai Zé, não tira os olhos lá do alto, o coração a saltar, a vontade de gritar por ele, onde estás, porque não apareces meu malandro, o Zé a gritar, traz lá o raio de uma cerveja Fátinha, ela impacienta-se, o raio da flauta que nunca mais se ouvia, então Fátinha ?, já vai Zé, e então parece que sim, que o está a ouvir, mas é preciso muito para me ires buscar o caraças de uma cerveja Fátinha?, já disse que já vai Zé, já vai!, vê-o ao longe, em passo dançado, abraçado à bicicleta, debruçado sobre a pedra de afiar, mas Fátinha vê-o, sim, é mesmo ele, e bolas Fátinha mas do que é que estás à espera?, e ele aí vem, de andar compassado, animando a calçada, passa por baixo da sua janela, olha para cima, deita um olhar guloso à Fátinha, a Fátinha que empoleirada lá no alto está roxa que nem um rábano, pisca-lhe o olho malandro, redondo, castanho, ela sorri o seu sorriso de moça atoleimada e ele lá segue no seu passo dançado, confiante que haverá fregueses, anunciando-se com a sua música soprada.

Fátinha suspira, olha e rebola, dá meia volta, vai lá dentro, encosta a cerveja gelada ao peito escaldante, volta bamboleante, Toma Zé aqui está a tua cerveja, e assim se deixam ficar, colados, suados, até o dia acabar.

7 comentários:

  1. Henriquamigo muito obrigada por este desafio! Espero que esteja à (sua) altura..
    Sempre que apetecer-lhe (a)mande mais!
    Qjs

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  2. Históriasamiga

    Um mimo, um verdadeiro miminho, bué da fixe, baril. Creio que - se não me engano - fazes parte dessa plêiade de médicos escritores, um Torga, um Namora, um Fialho, um Salazar (o Abel, porra!) a começar pelo Garcia de Orta. Muitos parabéns, mesmo não sendo «esculápia». Bravo!

    E o pobre do Zé - uma cervejola. E um para de.

    Um destes dias, vai outro desafio. Gosto disto. E disso.

    Outro desafio: se quiseres escrever lá na Travessa ou no Pulhítica é só enviares um imeile com o texto. Máximo 2.000 batidas incluindo espaços. É pegar ou largar. Fico muito honrado.

    Qjs

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  3. Henriquamigo
    não sei se merecerei tão amáveis palavras...oh para mim a corar! Muito obrigada, foi um prazer enorme.
    Quanto ao seu desafio: está já mais que pegado! Quanta honra! Tem prazo ou pode ser até ao fim de semana(os afazeres familiares e profissionais não são complacentes com tamanha honra)?
    Quer em jeito de desafio ou é à vontade da freguesa?
    MUUUITO obrigada

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  4. À vontadinha, freguesa!

    Um testículo (com x) por mês, tá?

    E pode ser já para a semana, calha bem, será uma prenda pelos meus çatenta, na terça, 20... Um vero ancião, éké

    Qjs

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  5. Olá, bom dia

    Históriasdenós

    Gostei muito desta história pedida por Henriquamigo.

    A música do amolador de facas e tesouras traz-me sempre imensa saudade, não sei de quê. Num texto meu a que dei o nome de 'Dez mil passos', referia-me a um amolador de tesouras, precisamente, uma figura que cada dia menos se vê ou se ouve...

    Beijo

    Olinda

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  6. Inspirada contadora de histórias,

    Há numerus clausus para as histórias pedidas?

    Posso pedir mais uma?

    Se puder, aqui vai o mote:

    "Quantas pessoas caminham na
    minha direcção? Quantas me
    descobrem por entre a multidão
    e pousam os seus olhos inteiros
    nos meus olhos?"

    (Excerto de um poema de Maria do Rosário Pedreira in 'Nenhum nome depois')

    Pode ser? Então venha lá daí mais uma história.

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  7. Cara Olinda, muito obrigada mais uma vez pelo feddback positivo! Andei à procura do seu texto no Xaile, mas, provavelmente por ignorancia minha, não descobri! Gostava de ler! Bjs

    Henriquamigo, está no forno..! A ver se o seu presente de anos lhe agrada! Bjs

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