«Um pêssego??» disse ela de sobrancelhas arregaladas.
«Sim, pega, um redondo, gordo, quente pêssego.» Tinha acabado de o apanhar. Ainda tinha as mãos a colar. Isto de apanhar um pêssego assim no meio do nada, sem experiência nenhuma na apanha da fruta nem em nenhuma outra apanha sequer, tinha muito que se lhe dissesse. Estava muito cheio de si mesmo. Um belo e opulento pêssego para entregar à sua «mais-que-tudo-que-é-tão-linda-e-que-eu-quero-tanto-e-para-sempre-e-sempre». Afinal já era um homem. Um homem capaz de chegar às árvores mais altas, sem a ajuda de ninguém, mesmo àquelas que parecem roçar o céu, tocar o sol e as estrelas.
«Sim, um pêssego para ti. Apanhei-o sozinho. Mas então não é a tua coisa preferida?»
Ela sorriu. Sim, era verdade. Pêssegos uns atrás dos outros mal chegava o calor. Lembravam sempre as tardes passadas entre os pessegueiros no moinho e onde o levara este Verão. Para sentados pararem o tempo enquanto devoravam pêssegos de todas as cores. E ela contava-lhe como crescera, as histórias que a tinham desenhado vírgula a vírgula, até ser esta que é hoje. E assim passaram horas e dias e semanas até já não haver sol e o vento amainar.
«Mas meu mais-que-tudo-que-és-tão-lindo-e-que-eu-quero-tanto-e-para-sempre-e-sempre, na praia não há pessegos, não há pessegueiros, não há árvores sequer. Não vês que isso é o bolo que acabámos de comprar à senhora do tabuleiro?»
Ah, então é isso, afinal não é um pêssego. É uma bola de berlim. (mas o sorriso da mãe é igual ao das tardes no moínho.Estou feliz à mesma.)
Tão bonito, tão sorridente.
ResponderEliminarOlá, Histórias de nós
ResponderEliminarUma linda história que vem provar que tudo na vida é muito relativo e que o que interessa mesmo é...o amor!
:)
Publiquei hoje a história do Xaile de Seda.
Obrigada.
Beijo
Olinda