Escrevo sobre ti, para ti, a ti. Todos os dias te vou desenhando mais um pedacinho, neste meu caderno pautado que trago no colo, enchendo as folhas brancas com aquele que serás tu. Tu para mim.
Quando paro nesta estação e lá estas sentado à espera da tua vez, quer dizer, da tua linha, descubro mais um bocadinho daquilo que é seres tu e lá vem para o meu papel. Hoje a camisa azul, ontem o guarda-chuva, naquele primeiro dia o meio sorriso. Pareceu-me que era para mim.
Um dia hás-de levantar-te, entrar na minha linha e sentar-te ao meu lado. Todos os dias aqui passo a caminho da escola. Sabes, lá chamam-me Senhora Professora, mas eu só quero que algum dia alguém me chame Meu Amor. Podes ser tu. Ou melhor, queria que fosses tu.
A SENHORA QUE SE SENTA ATRÁS:
Vejo-a sempre ali de caderno no regaço e ponho-me a imaginar o que será o mundo desta menina-velha que todos dias aqui vejo. Sempre na mesma cadeira, sempre o mesmo ar esperançoso e cabelo bem apanhado.
Vejo-a escrever devagarinho, lentamente, com cuidado. Tenho a certeza que também é assim que leva a vida. Um dia hei-de esquecer-me da dor na anca e do que me custa levantar, chamo-a e digo-lhe para acordar, que qualquer dia já não tem mais dias e que até um simples levantar vai custar-lhe a coragem do mundo.
ELE:
Um dia ela vai sair nesta estação, vem ter comigo e hei-de pedir-lhe para ver o caderno que poisa delicadamente sobre as pernas. Depois levo-a pela mão e vamos passear na rua. Pode ser que seja amanhã.
Eu não sei se a Leitora vai gostar mas eu gostei.
ResponderEliminarUma história a três vozes...e que tão bem escrita e com um final que poderá ser de esperança.
ResponderEliminarGostei muito, Histórias de nós.
Beijos
Olinda
Uma história de solidão a três vozes, que ficam prisioneiras da hesitação de cada um. Tinha visto nesta fotografia uma história de enamoramento e encontro futuro, mas o seu contrário é outra forma de ver possível. Muito bem. São múltiplos os olhares!
ResponderEliminar