Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Eras tu

Assim chegaste tu, suavemente, com os teus pézinhos de perlimpimpim, como eu passei a gostar de dizer, nesta minha vontade de criar palavras novas, carregadas de sentido, tanto que uma só palavra carregue o sentido de duas ou três, de passados, sentimentos, de tal forma que nos deixe a pensar. Como aquele escritor, que se farta de inventar e que tanto me deixa a magicar. «Esferográvida», «a lembrança encostada», e sei lá que tantas outras mais.

Gostava de ter esse dom, essa mágica, de criar palavras novas, palavras pensantes que nos deixem de cara à banda de cada vez que as lemos e não conseguimos pereber como é que ninguém se tinho lembrado delas antes.

Mas, como se escrevia, assim chegaste tu, doce, docemente, embrulhado nos teus silêncios, com pézinhos de perlimpimpim, de tão leve, dessa tão insustentável leveza do seres tu, acercaste-te de mim, sopraste-me qualquer coisa que não percebi na boca do meu ouvido e tal como vieste também te foste. Pois, esses pózinhos que deixaste no ar, com o teu rasto, o teu cheiro, a tua leveza é que foram para mim uma promessa do teu regresso, do certo prazer com que te abraçaria brevemente.

Pois foi assim que esperei e esperei, entre longos suspiros assobiados, divagações aivadas e textos mal paridos. E pois foi assim que vieste, quando eu já não te esperava mais. Mas já não vinhas com os teus pézinhos de perlimpimpim, a tua insustentável delicadeza, nem o teu cheiro a ti.

Esqueceste-te de entrar doce, docemente, como quem chama por mim, de te vestires do teu perfume a ti, a anjo caído dos céus e apartado nos meus braços e dos teus sussuros suspirados, enquanto me davas prazer até eu não querer ou poder mais.

Queria-te como antes, com a tua insustentável gentileza, pluma caindo do céu, pôr do sol no fim da linha, transparência absoluta, manso, mansinho, de olhos abandonados.

Mas isso já não eras, sei que já não voltarás a ser, porque quando o foste eu estava de luzes apagadas, no meio da escuridão do silêncio, escondida no meu e teu mundo, alheia aos ventos e às marés. E por isso sei que não te vi como és.

Ando às voltas para achar uma palavra que me ajude a explicar isto que se me sucedeu. Não consigo lembrá-la nem inventar uma nova, carregada de sentido que faça sentido. Nem mesmo com estes teus pózinhos de perlimpimpim.

5 comentários:

  1. História de nós

    Interessante a referência à invenção de palavras que imprimem movimento e uma certa cumplicidade do autor em contacto com as personagens. Fez-me lembrar Mia Couto, um mestre nesta matéria.

    Uma maravilha, como sempre, este seu conto.

    Bjo
    Olinda

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  2. Cara Olinda, mais uma vez muito obrigada pelas suas tão generosas palavras! E acertou: estava mesmo a referir-me ao Mia Couto. Adoro os seus livros, tenho especial predilecção pelo Fio de Missangas. Acho-o um mestre na arte de bem escrever.
    Obrigada bjs
    M.

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  3. Bela historinha, com umas palavras muito bem escolhidas para nos transmitirem o ambiente subjacente. O Mia Couto haveria de gostar de ver. Parabéns, gostei muito.

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  4. Adorei e também me lembrei de Mia Couto.
    Quanto à palavra...com alguma frieza poderei sugerir "despertar". Mas sei que é demasiado pobre para um texto tão belo. Talvez o melhor seja aceitarmos o inefável.

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  5. Cara Leonor, muito obrigada pelas gentis palavras.
    Sim, despertar é uma boa palavra, mas..será que é só isso? Acho que falta um cheirinho a desilusão nessa palavra nesta história..
    Muito obrigada pela sua sensibilidade
    M.

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