Um desafio aos leitores!!

Já que umjeitomanso.blogspot.com me «anunciou» enquanto Contadora de Histórias, vamos lá pôr-me à prova! Quem se interessar, envie-me email (diazinhos@gmail.com) ou deixe comentário num dos textos, com uma palavra ou frase que me «inspire» para um próximo texto. A ver se pega e a ver se estou à altura..

sábado, 24 de setembro de 2011

História pedida 11 (por Henrique Antunes Ferreira - sem tema): Coisas Simples

A Senhora Dona Teresa nasceu fidalga em nome e condição. Além dos oito nomes que lhe enchiam o BI e romanceados cartões de visita, corria-lhe no corpo pálido o sangue azul de abastados bastardos da realeza francesa.

Filha de Conde e Condessa, crescera no casarão do Restelo a arredondar a boca para dizer «sófá» (assim mesmo com dois acentos, assassinando a gramática portuguesa), «piqueno» e «retrete». Já para não falar da facilidade em que dividia o mundo entre pessoas «civilizadas» e pessoas «simples».

Cresci a acompanhar a minha mãe a casa da Fidalga. Sentava-me no chão ao lado da tábua, enquanto via passar os vestidos de popeline, seda selvagem e cetins coloridos.

Corria entre a criadagem que a Senhora Dona Teresa guardava um misterioso segredo. Volta não volta desaparecia por umas boas horas, normalmente ao final do dia. E começaram a reparar que o ensebado, encardido e ensonado Jardineiro, velho-relho que mal se aguentava nos canivetes, desaparecia também pela mesma altura.

Um dia resolvi-me a resolver este mistério irresolúvel. Não a perderia de vista, de ouvido. Compensou. Enquanto sentada na sombra das buganvílias, o Jardineiro passou de levezinho. «Está tudo preparado. Lembrei-me: será que a Senhora não prefere ir para um hotel?». Silêncio aprofundado. «Não. É mais arriscado».

Pois então não é que a Fidalga e o «simples» do Jardineiro andavam mesmo na boa-vai-ela-e-mais-ele?? Esperei. Ao chegar das 18h levantou-se cautelosa, deixou o livro no banco de mármore, foi até ao fundo do jardim e entrou no barracão das ferrugens do Jardineiro.

Deslizei até ao barracão e em pontas espreitei por uma fresta. A Senhora Dona Teresa desfazia-se em palavrões de fazer corar as pessoas mais «simples»; o Jardineiro num desasossego. A televisão a passar o jogo do Benfica, no chão assentadas garrafas de minis e cascas de pevides. E ela vermelha. A chamar pelo Glorioso. Pois então que a Senhora perdia a fidalguia, a pose e o esmero com o seu Benfica. Mistério resolvido. Afinal era tudo uma questão de simplicidade.

4 comentários:

  1. Gostei lá na Travessa, voltei a gostar aqui. Vou espiolhar todo o Blog.
    Abraço
    Maria

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  2. Mistério resolvido, sim senhor!Com fim um inesperado...
    Gostei desta história encomendada pelo amigo Henrique.
    No blog dele também vi que afinal uma seguidora minha chamada 'Dias assim' é afinal a nossa Historiadora de Nós.
    Estarei enganada?Já me desesperava de tanto a procurar!
    :))

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  3. Maria, espiolhe à vontade e se lhe apetecer, venha daí um «mote» para uma história de nós! Bem vinda!

    Olinda, sou eu pois!! Mas sem querer que houvesse esta confusão..porque Dias Assim era nome de um blog meu que não chegou a descolar, mas como não percebo nada disto, não sei onde mudar! Bjs

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  4. Que história divertida. Dava uma bela rábula televisiva. Parabéns.

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