O cheiro a lavanda logo pela manhã, enquanto me estico nos lençóis de linho da minha avó. A janela já está aberta e dá licença ao sol para entrar e sacudir-me deste sono pegajoso. Arrasto-me pelos lençóis frescos até à beira da cama. Deixo-me ficar de olhos semi-abertos a ver o azul lá fora e ouvir os risos ao pequeno-almoço.
Sorrio um dos meus sorrisos de quando paro para pensar no meu mundo e me dou por feliz.
Ainda para mais quando sei que me esperas do outro lado do corredor e que posso chegar a ti, de cabelo no ar e olhos inchados, que mesmo assim me vais puxar para ti e deixar-me rebolar no teu peito enquanto me falas com a tua voz melada.
As nossas crianças hão-de saltar, dar pinotes, mostrar-me as bocas besuntadas de leite, as mãos escorregadias da manteiga das torradas, enquanto algum de nós se deixa apanhar na teia de uma história cantada.
Vou arrastar-me até à mesa, vais deixar-me um croissant ao mesmo tempo que me beijas o cabelo com a tua boca cheia de mel e as crianças correm para o meu colo, puxam-me, pedem mil coisas numa linguagem indecifrável e deixam-me ver os seus dentinhos de leite malandros.
E aqui estou eu, à beira dos lençóis de linho, a inspirar o ar fresco da manhã, a ouvir os risos lá dentro, a sorrir sozinha, levantando-me devagar, devagarinho, enquanto procuro os chinelos já gastos, a camisola dos fins-de-semana, abro a porta e deixo entrar o meu mundo.
História de uma família feliz que deveria ser a história de todos nós...Senti um doce sentimento de aconchego ao ler este texto.É o quadro perfeito, desde os lençóis da avó com cheiro a lavanda até aos 'dentinhos de leite malandros' e à disponibilidade demonstrada em deixar entrar o seu mundo.
ResponderEliminarAbraço
Olinda
Cara Olinda, bom ver como cosegue «sentir» o que escrevo tal e qual eu o sinto ao escrever!! Obrigada mais uma vez pelas suas palavras!
ResponderEliminarAbç