Se me vires assim de olhar esfumado e sorriso desencontrado, não te preocupes. Sou só eu perdida nos meus mundos, à espera do tanto que há para vir, com vontade de sempre mais, com os arrepios nas pontas dos dedos e a intensidade à flor da pele. Mesmo como eu gosto.
Procuro em linhas desenhadas e em palavras surripiadas, letra a letra, das páginas que me enchem os dias, o tudo que ainda hei-de ser, o tanto que já sei que sou.
Pões-me a mão no ombro, tentas chegar-te a mim, mas neste momento não me fazes falta, não te preciso aqui, não sei que te dizer. Talvez porque faças parte de mim e isso me chegue. Por agora chega.
Mas depois quero ganhar mundo, quero bater à porta da vida, não quero sequer pedir licença para entrar, quero deixar-me levar, quero que me levem, leve, leve, sem o peso de mim, para descobrir o que por aí há, para vir a sentir mais do que mais, mais do que os outros, mais do que tenho agora aqui.
Não te preocupes se eu ficar horas à janela, ou à beira de um muro sobre o mar ou sequer num quarto escuro. Não te preocupes porque não sou eu que lá estou, mas a vontade do que serei. Estou a viajar, estou a sonhar. Estou a desenhar em mim as estradas que vou correr, as vidas que vou viver.
Deixa-me ficar assim, então, que eu volto já, prometo que não demoro, não ficarei por regressar. Espera por mim, mesmo que quem volte já não seja eu, mas um eu um bocadinho maior, um bocadinho mais cheio, um bocadinho mais perdido das histórias de mim. Mas eu volto. Eu volto.
Tão bonito. Tão bem escrito.
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